Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Tenho pensado que há basicamente dois tipos de erros. Aquele erro proposital, praticado com a intenção clara de magoar, humilhar, desforrar ou se mostrar. Esse erro é estúpido, bárbaro, animalesco. Às vezes ele aparece com um “ar de ingenuidade” na forma de uma brincadeira maldosa que ofende ou que destaca características que envergonha o outro. Depois dizemos: “estava só brincando” ou “eu não queria ofender”. Outras vezes aparece em forma de “zelo”. Desqualificamos o trabalho do outro e depois dizemos: “queria somente ajudar”.
Em nome da ingenuidade e do zelo massacramos, humilhamos, desqualificamos e cometemos outros “amos” mais. Pura estupidez. Alguns diriam que é falta de sensibilidade e outros, que é ignorância.
O uso de drogas, lícitas ou ilícitas, se enquadra nesse tipo de erro grotesco. O descaso para com o estudo, a vaidade, a desconsideração pela potencialidade do outro, a mentira, a hipocrisia e o preconceito são manifestações desse erro desumano que deveríamos aprender a superar desde os primeiros dias de vida, pelo exemplo de nossos pais. De alguma forma deveríamos “herdar” essa superação através da educação familiar.
É uma pena que nós, os pais, ainda tenhamos que aprender a não cometer esse tipo de erro. Como ensinar o que não sabemos? Penso ser este um trabalho que o púlpito evangélico deve realizar: educar as famílias para que eduquem os seus filhos. Cada igreja evangélica deveria ter um departamento de educação familiar ativo, composto por profissionais das diversas áreas do conhecimento, e elaborar programas que saiam da mesmice e dos discursos simplistas compostos de receitas prontas e frases de efeito. É preciso educar.
Há outro tipo de erro. Ele acontece, por exemplo, quando uma criança começa correr e não consegue calcular a distância que a separa da parede. É aquele erro de “cálculo” como dizemos. Supomos que com certa ação vamos obter determinado resultado e depois somos surpreendidos com uma reação inesperada. É o erro humano, decorrente das nossas limitações, mas que nada tem de maldoso ou de segundas intenções. É o erro decorrente da busca, da ação, do crescimento. É o erro que constrói a inteligência.
Muitas vezes aprendemos somente após “apanhar” porque ninguém que conhecemos passou por aquela experiência antes. Há casos também em que a experiência do outro não ajuda muito porque a sua perspectiva de vida é diferente da nossa, seu preparo para enfrentar os desafios difere do nosso, e assim por diante. Não podemos ficar esperando que os outros acertem tudo para depois fazermos. Cada pessoa precisa buscar e ousar e, nesse ousar, ocorrem erros. Mas não é um erro estúpido, é um erro de “estimativa” que provém das circunstâncias adversas, das variáveis não controláveis, do imprevisível.
Quem comete esse tipo de erro merece respeito, incentivo e apoio quando se sentir abatido. Às vezes temos que estimular nossos jovens a errarem mais, isto é, a serem mais ousados, mais corajosos. Eles precisam superar os seus próprios limites e dificilmente superamos limites sem “esbarrões”, sem “arranhões”, sem percalços.
Prudência é evitar o erro estúpido e fugir da acomodação. Não é prudência evitar a busca de novos limites, de novas realizações, ainda que nessa busca nos “machuquemos”.
Dizemos para uma criança (e ao jovem também) que ela não deve errar. Por que não? Que tipo de erro ela deve evitar? Isso é explicado para ela?
Errar é humano! Ninguém está livre do erro, exceto os mortos. Para quem não quer mais errar e nem conviver com pessoas que erram eu tenho alguns endereços de cemitérios para fornecer, mas eu prefiro continuar errando a ir para um deles. Sou feliz por ainda poder errar.
Julho 2010
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