Antonio Sales profesales@hotmail.com
No primeiro texto supus que Deus, por vezes, esconde o Seu rosto de nós na tentativa de nos tirar da apatia, da dependência doentia. Dependência doentia é aquele caso do adolescente profissional; aquele “adolescente” que aos quarenta anos ainda depende economicamente dos pais, ainda espera por uma ordem da mãe para procurar trabalho.
Como todos sabem há uma fase da vida em que a dependência absoluta é normal, mas depois ela deve ir diminuindo gradativamente. Em certa idade ela deve estar quase anulada. Uma exceção salutar é a do universitário ou daquele que segue uma carreira acadêmica que, dependendo do curso ou carreira escolhida, só vai entrar no mercado de trabalho um pouco mais tarde. Nesse caso é natural que o fim da dependência retarde um pouco. Nenhum pai se queixa disso. Aliás, até se orgulha.
Embora de alguma forma sempre dependamos de alguém, especialmente dos profissionais especializados, é consenso geral de que em alguns aspectos da vida quando mais cedo se tornar independente mais saudável é. Imagine um rapaz de 18 anos dependendo da mãe para banhar-se. Ele é saudável?
Na vida espiritual não é diferente. Em questões de salvação (resgate, perdão, vida eterna, ressurreição) não há como ser independente de Deus (Ef. 2:8) porque Ele é a única fonte. Em questões relacionais, porém, é necessário que cada um parta para a luta da conquista do seu espaço e do aprendizado sobre direitos e deveres. Aprender a respeitar diferenças, vencer preconceitos, expressar-se corretamente, desenvolver o espírito de cooperação, avançar intelectualmente, assumir responsabilidades, não são tarefas de Deus e nem do Espírito Santo. São tarefas nossas; bem nossas. Milagres acontecem (disso não tenho dúvidas), mas sempre na esfera do impossível para o homem.
Eu creio em milagres, mas não creio em um Deus paternalista. É por isso que no meu entender Deus, por vezes, esconde o Seu rosto de nós. Esconde para nos colocar em confronto com os problemas que precisamos aprender a resolver. Deus escondeu o Seu rosto de Adão e Eva enquanto eles dialogavam entre si, e com a serpente, sobre comer ou não comer do fruto. Se Ele tivesse chegado na hora do diálogo teria evitado a tragédia (ou adiado, pelo menos). Mas adiar ou evitar não é a solução. Enfrentar o problema é a solução e isso cabe a cada um de nós.
Deus se escondeu de Abraão (e de Isaac também) na hora em que afirmou que a esposa era sua irmã, mas não se escondeu de José, o carpinteiro, quando ele duvidou da história sobre da gravidez da sua noiva. Jamais se ouvira dizer de uma virgem grávida, logo, esse fenômeno era incompreensível ao ser humano e por isso Deus se fez presente para evitar um equívoco que, humanamente, era inevitável.
Depois que Sara estava no harém de faraó Deus se mostrou porque era praticamente impossível resgatá-la pelo esforço humano.
Quando Davi cobiçou a mulher de Urias, Deus se escondeu para que ele tomasse a decisão e assumisse os riscos. Deus não queria um rei fraco, isto é, um rei que dependesse de uma voz lhe falando a todo instante o que devia fazer. Davi não poderia ser um rei-criança.
Para mim é assunto resolvido que a nossa dependência não deve ser tal que nos isente de responsabilidades. Deus não nos quer deixando de fazer a nossa parte e depois culpando–O porque as transformações não ocorrem em nossa vida.
Tenho observado que certas administrações eclesiásticas empacam o trabalho porque ficam deixando para Deus o que é da esfera humana. Problemas que requerem ação tornam-se objetos de oração e ficam sem solução.
Deve ser essa a razão porque muitos cristãos passam a vida conturbados pelos problemas (familiares, financeiros, profissionais, etc.) que os assolam. Esperam que Deus faça por eles o que parte de cada um.
Que bom que Deus se esconde para que possamos crescer.
Setembro2010
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