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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Os Guias Cegos- IV


Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Devemos enfatizar que, na nossa perspectiva, quando Jesus se referiu aos Judeus como guias cegos Ele não estava  supondo que fossem leigos ou ignorantes. Para Ele a cegueira estava no preconceito que eles  nutriam, na falta de bom senso que demonstravam  e na estreiteza mental.
No contexto atual começamos essa série de textos falando dos que discursam sobre música na igreja  sem entender do que falam  e sem direcionar ou dar sentido ao que dizem  e passamos para os pregadores, aqueles que ocupam o púlpito em nome de Deus.  Reclamamos que  alguns sermões são inúteis por serem rasos, superficiais e outros, por serem imprecisos ( não se sabe o que o pregador quis dizer ) e outros ainda por não terem nenhuma aplicação prática. Alguns parecem instigar o terrorismo ou defender o regime Taliban, outros são cultos, mas tratam de questões  que não afetam diretamente a nossa vida; alguns  ainda são simplistas, dando respostas simples para problemas complexos e  outros  não passam de mera repetição de tudo o que já foi dito. Estes não acrescentam nada  ao ouvinte contribuindo mais para a sua imbecilização do que para o seu desenvolvimento.
O que chama a atenção é que após um sermão desses, normalmente, alguém se levanta na plataforma e diz: “após ouvir essa bela mensagem, etc.”
Cada vez que isso acontece  eu me lembro de uma anedota que ouvi nos meios acadêmicos. Reforço para o leitor que embora sejam citados nomes de personagens prefiro aqui contar anedota omitindo tais nomes por supor que seja apenas uma anedota  que não deve ser usada indiscriminadamente.
Sabe-se que a mandatária de certo país era luterana de nascimento  mas ao se casar com o príncipe herdeiro do trono de outro país adotou a nova nacionalidade e foi uma das sua mandatárias mais influentes.  Tornou-se católica fervorosa e era amante das artes  e das ciências  procurando patrocinar o conhecimento contratando sábios de todo mundo para lecionar nas universidade do país adotivo.
 Nesses seus contatos ela se deparou com um enciclopedista francês, homem de muita cultura e o convidou para ser professor em uma das suas universidades com um salário compensador. O convite foi aceito. O que ela não contava era que o ele era ateu e, sendo muito imprudente,  zombava  abertamente da religiosidade do povo russo, pondo-a em apuros. Pretendia dispensá-lo, mas não sabia como fazer sem dar a impressão de estar promovendo a  intolerância religiosa.
Enquanto espera por esse momento  surgiu no cenário internacional o jovem, verdadeiro gênio matemático. Até hoje ele é considerado um dos grandes matemáticos da história. A rainha não perdeu tempo em fazer contato e oferecer-lhe  vantagens financeiras para ir ao seu país. Agora, porém, ela  estava mais cautelosa e teve o cuidado de perguntar pela sua relação com a religião e, para justificar a preocupação,  contou-lhe os apuros que passava com francês.  O jovem era um gênio espirituoso e teria respondido: “sou crente e provo matematicamente que Deus existe”. Estava contratado.
A rainha entusiasmada,  e enquanto  o jovem cientista  “arrumava as malas”,  mandou anunciar que contratara o sábio que provava matematicamente a existência de Deus e convocava todos os eruditos para assistir a sua aula magna quando chegasse na capital. O culto ateu, que já conhecia a fama  do gênio, tremeu nas bases.
O dia chegou!  O jovem já estava na cidade de destino descansando ocultamente enquanto aguardava o momento da tão esperada aula. Os intelectuais  se reuniram no anfiteatro  da universidade e aguardavam perplexos pela apresentação do jovem matemático. Quando foi anunciado o seu nome o jovem entrou circunspecto, saudou a todos formalmente, e disse: “minha aula é composta de poucas palavras, pois preciso apenas de poucos segundos para provar, matematicamente, a existência de Deus”. Virou-se para o quadro e escreveu uma expressão sem significado algum, do tipo , e disse: “aqui está a prova matemática da existência de Deus, há algum questionamento”.
Tomados de surpresa todos ficaram perplexos sem ter o que dizer e ele aproveitando  o vacilo concluiu: “nenhuma questão, a prova está aceita, terminou a aula”. A rainha levantou-se para aplaudi-lo de pé e foi acompanhada por todos os presentes. O jovem se retirou vitorioso e o ateu, humilhado,  voltou para  o seu país de origem. O problema da rainha estava resolvido, mas algum tempo depois alguém chamou o jovem em particular e perguntou-lhe como aquela expressão matemática provava a existência  de Deus, ao que o sábio respondeu: “ela não prova que Deus existe, mas prova que “intelectual” ateu  não é, de fato, um intelectual pois não soube questionar”.
Como foi dito no início isto é apenas uma anedota, pois é provável que os dois sábios nunca tenham se encontrado de fato e essa aula magna nunca tenha ocorrido, mas uma coisa essa anedota nos ensina: se a intenção dos pregadores é provar que o seu público não entende nada eles têm conseguido, pois não dizem nada e alguém ainda se levanta e elogia a mensagem.
profesales@hotmail.com       julho de 2011

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