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sábado, 5 de novembro de 2011

A “MALDIÇÃO DA LEI”


O apóstolo Paulo me encanta com a sua mensagem. A sua capacidade para entender o plano da salvação é surpreendente. A sua liberdade interior é invejável.
Recém-saído do judaísmo onde predominava a crença de que alguém para ser aceito por Deus precisava estar com a vida em ordem, precisava estar vivendo em conformidade com os preceitos da lei, satisfazer previamente os requisitos legais é surpreendente que ele tenha captado tão prontamente a mensagem do evangelho.
Considerando que normalmente as pessoas nunca estão plenamente satisfeitas com o seu desempenho, essa exigência de cumprir plenamente a lei para ser aceito torna-se uma maldição, um fardo.
Jesus disse que o Seu fardo era leve (Mt 11:28-30), mas a Sua fala passou despercebida, exceto pelo evangelista que a registrou. Paulo percebeu, nessa fala de Jesus, o princípio da liberdade.
Em Gl 3:13, o apóstolo afirmou que ao morrer na cruz Cristo assumiu essa maldição, carregou sobre Si esse fardo e nos liberou dessa exigência. Não precisamos estar em forma perante a lei para sermos aceitos pelo Pai. Somos adotados por Deus antes de termos os “documentos”, antes da adoção legal.
Paulo acreditava no poder transformador da graça. Para ele era impossível ser salvo sem ser transformado e, por essa razão, desnecessário “jurar lealdade” antes da aceitação da graça e ser  aceito por Deus.
Essa transformação é imediata e plena no sentido  de produzir  novas intenções, de despertar o amor, de transportar o sujeito de uma “comunidade” para outra, de despertar  o desejo de abandonar um modo de vida e ir em busca de outro.
Esse novo modo de vida é objeto de aprendizagem. Ele deve ser aprendido porque, pela atuação da graça na vida, mudam-se prontamente as intenções mas não se muda bruscamente o contexto onde as atividades sociais e espirituais são exercidas. Surge, com a graça, um novo desejo, mas não um novo mundo, um novo lar, um novo ambiente de trabalho, um novo vizinho, ou um novo cônjuge. Tudo isso deve ser construído a partir dessa transformação rápida produzida pela graça.
Esse processo de aprendizagem, de construção de um novo viver, Paulo denomina de santificação (Rm 6:19). Portanto, a aceitação é imediata, sem a necessidade do cumprimento de exigências prévias, mas o viver como cristão é um processo.  Ele é objeto de aprendizagem.
Paulo estava, nessa carta aos gálatas, falando da nossa aceitação por Deus e  não mede esforços e nem palavras para dizer que isso é momentâneo;  uma ato da graça de Deus. Os cristãos não deveriam ter dificuldades em entender isso, pois na hora da Sua morte Jesus aceitou o pedido de um malfeitor para ser aceito em Seu reino (Lc 23: 42,43), sem nem mesmo perguntar pelo seu nome.
Para o apóstolo a graça é superior a qualquer outro relacionamento que queiramos estabelecer com Deus (Gl 3:18). A herança é uma dádiva divina.
A “maldição da lei” (Gl 3:13) está sobre aqueles  que não conseguem pensar na graça como sendo suficiente. Para eles é preciso uma resposta explícita de obediência para caracterizar a aceitação de Deus ou a salvação. Jesus não disso isso para o ladrão. Jesus disse, para a mulher, “vai e não peques mais” (Jo 8:11) para benefício dela e não Dele, para ganho da sociedade e não do reino de Deus, para ela ser feliz e não para Deus se autorrealizar. O perdão, a aceitação, a incorporação dela no rol dos Seus seguidores vieram  antes de tudo. 
Maldição é ter que pagar depois que recebeu o benefício gratuitamente. Maldição é ter que assistir as aulas sobre  um conteúdo que já se domina apenas para cumprir um requisito legal.
 Dourados, 30 de outubro de 2011 (domingo).
Antonio Sales    profesales@hotmail.com

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