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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

JUDÁ E TAMAR: FRUTOS DO SEU TEMPO


No texto anterior falamos, inspirados em Gên 38, do tempo de Jacó, da concepção de feminilidade que tinham os  homens da época. Falamos da situação desfavorável a que eram submetidas as mulheres, dos seus “direitos”, da sua função na sociedade.
O homem é produto do seu tempo, da sociedade onde vive. Naquela época era permitido o homem se relacionar com várias mulheres, no entanto, a mulher que se relacionasse com mais de um homem seria tida por prostituta.
Jacó era um homem adaptado à sua época. Para ele era normal se relacionar com alguma prostituta. Era viúvo e por isso sentiu-se liberado para tal ato, desnecessário. Um ato praticado apenas para mostrar a sua virilidade, uma vez que, com certeza, teria se casado outra vez caso desejasse ter um compromisso mais sério e um relacionamento mais afetivo e efetivo. Se as mulheres, na época, dependiam do nome de um homem para ter a sua identidade  reconhecida, certamente ele teria encontrado não uma apenas, mas duas ou três, jovens até, que desejassem o seu amparo e se habilitariam a um casamento com ele. Mas lhe dava status, talvez, dizer que esteve com uma prostituta. Ou, quem sabe, dizer numa “roda” de amigos, que explorou uma mulher. Ou ainda dizer que as mulheres estavam à beira da estrada esperando por ele, mendigando a sua afeição. No entanto, a sua nora, também viúva, foi ameaçada de morte por ter recorrido a esse expediente como último recurso à sobrevivência.
Ainda hoje apesar de todo o prestígio conseguido pelas mulheres, apesar de terem dado provas sobejas da sua capacidade administrativa, de estarem proclamando alto e bom som que já não são mais simples objetos de cama e mesa, ainda há homens (felizmente já são poucos) que se recusam enxergar o mundo de outra forma, e, lamentavelmente ainda há mulheres que não acordaram para os novos tempos, para a oportunidade de ter a sua própria identidade.
As igrejas evangélicas desde o seu início reconheceram o valor da mulher e os homens foram, de forma indireta alguns vezes e diretamente outras vezes, admoestados a dar à mulher o seu devido espaço - o que elas souberam ocupar com muita dignidade.
 Hoje temos pastoras, uma evidência de que nós também somos homens adequados ao nosso tempo. Se nada tínhamos contra a participação da mulher por que não a incentivávamos? Simplesmente porque a sociedade não o fazia. Se a mulher tinha o seu espaço por que não o ocupava plenamente? Porque a sociedade não considerava importante, não estimulava.
Dizem os noticiários que os homens estão com a “pulga atrás da orelha” porque estão sentindo-se desprestigiados, ameaçados pelo avanço das mulheres. Penso que isso é, pelo menos em parte,  verdade porque até há pouco os homens, especialmente os machistas, tinham razão econômica para existir. Eles sustentavam a casa, e davam nome à mulher. Faziam dela uma cidadã. As mulheres tinham como razão prática para existir, a maternidade, o fornecimento da matriz para a formação do filho e o aleitamento dele. Só o homem podia fazer uma coisa e só a mulher podia fazer a outra. Os tempos mudaram. A mulher já consegue ser provedora e o homem ainda não consegue ser matriz. Parece-me que para os homens resta apenas uma razão simbólica para existir, enquanto as mulheres tem agora também uma razão econômica para a existência.
Apesar disso acredito que ainda há espaço para o homem que consegue ser um símbolo, pois a humanidade ainda tem necessidade de símbolos. Talvez agora homens e mulheres tenham encontrado a verdadeira razão para a existência mútua, um ao lado do outro.  Talvez agora, nós homens, tenhamos encontrado o nosso verdadeiro sentido.
 Ser símbolo é ser representante, e o homem está presente na família como sacerdote, representante de Cristo, mediador entre Deus e a humanidade. Ele simboliza o poder fecundante do Espírito. Do Espírito que fecunda mentes e corações com nobres ideais, que fecunda a igreja com novos conversos a cada campanha de evangelização. Lamentavelmente o homem não foi educado para isso, para ser esse tipo de símbolo.  Foi moldado para a rudeza, para reprimir as emoções. Foi moldado para trabalhar e pagar para ser amado. O homem, durante séculos, tem sido símbolo de frieza e de arrogância, um verdadeiro desvirtuamento do seu papel. O homem agora precisa aprender a unir opostos tais como: força e sensibilidade, coragem e mansidão, valentia e suavidade, simplicidade e prudência. Ele precisa ser símbolo de Cristo, o mediador entre Deus e a humanidade, portanto, precisa aprender a doçura sem perder a varonilidade, orientar sem ditar regras, se fazer respeitar sem impor medo; enfim, conquistar o amor e não comprá-lo.  O homem não pode mais sentir-se realizado com o ato de pagar para ser amado.
Diante disso uma tarefa difícil se impõe agora sobre nossos ombros, e temo não estarmos preparados para ela. A tarefa agora é aprender a conquistar o amor, é representar a Cristo em Seu exemplo de paciência, coragem e firmeza de propósito.
Aprender a ser símbolo.
Fato curioso. Os estudiosos do comportamento animal, intrigados com a falta de utilidade dos machos de algumas espécies, procuraram pesquisar outras possíveis razões para a sua existência. É que normalmente, o grupo em seu estado natural, é composto de 50% de machos e 50% de fêmeas. Mas os machos não cuidam dos filhotes, não protegem as crias, não as alimentam, não provém sustento para as fêmeas. Por que existem então? Observaram os pesquisadores, que nessas espécies a presença do macho é profundamente significativa para a fêmea. As fêmeas nem chegam a ovular, isto é tornarem-se férteis, se não têm contato com machos. Fêmeas colocadas em convivência com machos sexualmente inativos se tornaram também inativas sexualmente e só voltaram à atividade sexual quando passaram a viver em proximidade de machos sexualmente ativos.
É verdade que nem sempre é prudente comparar a psicologia animal com a psicologia humana, tendo em vista que o comportamento animal é instintivo enquanto o comportamento humano é social.  A observação desses pesquisadores, no entanto, parece-me apropriada, para esta ocasião, uma vez que o heterossexualismo ainda é o modelo mais comum.
De qualquer forma, porém, é necessário que nós, os homens, nos situemos no tempo porque as mulheres já se posicionaram.

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