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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

JUDÁ E TAMAR: O TEMPO E A SOCIEDADE


O texto que serve de inspiração para nossas reflexões é o capítulo 38 de Gênesis; o escabroso relato do relacionamento entre Judá e sua nora Tamar.
Abraão nasceu aproximadamente no ano 250 após o dilúvio e Jacó, pai de Judá, nasceu aproximadamente 400 anos depois que Noé inaugurou a “nova geração”[1].   
No tempo de Abraão a terra já estava dominada pelo politeísmo e foi para iniciar um povo que lhe servisse e que divulgasse o Seu nome que Deus o chamou. Judá era bisneto do patriarca mas passara parte da sua vida em Padã-Harã, quando o seu pai cuidava do rebanho do  seu avó materno, Labão. Portanto vivera entre os pagãos e deles aprendera a arte de viver. Além disso, sua família tivera uma vida tumultuada, mesmo depois do retorno às paragens de Canaã. Jacó teve quatro esposas, 12 filhos e uma filha. As duas esposas principais se rivalizavam continuamente.
 Judá viveu numa cultura tão diferente da nossa que dificilmente conseguimos imaginar. A prática usual da época era o direito dos homens. Domínio, infidelidade, tudo lhes era permitido, enquanto nada era permitido às mulheres. Elas seriam tidas por pessoas de sorte se tivesse filhos ou herdasse o nome de um homem. O único sonho possível para uma mulher era casar e ter filhos, encontrar algum homem que a adotasse.
Para nós, do sexo masculino, é difícil avaliar o que significa isso, essa dependência total de alguém, ignorante, autoritário, cheio de caprichos. Aliás, temos uma pálida ideia do que era a vida das mulheres naquele tempo, quando  atentamos para a situação política  reinante em alguns países (e até bem pouco no nosso), onde as leis são feitas para beneficiar  os poderosos, e por isso não são levadas a sério quando se trata dos direitos do mais fraco. Os poderosos não respeitam as leis porque, ao que parece, elas não foram feitas para isso. Foram feitas para proteger o forte do fraco, mas não o fraco do forte. Elas existem para fortalecer os fortes e mantê-los no poder.
 Sentimo-nos indignados quando vemos os nossos direitos vilipendiados e os processos administrativos se arrastando morosamente de gaveta em gaveta, ou processos judiciais extrapolarem os prazos e as respostas chegarem quando não mais precisamos delas. Uma prática relativamente comum no Brasil de poucos anos atrás.
Foi essa a experiência pela qual passou a mulher em tempos passados, sob o domínio dos homens. Foi assim no tempo de Jacó. Foi essa a experiência de Tamar.
Foi essa a experiência de tantas outras mulheres daquele tempo. Nada lhes favorecia, a não ser a pródiga natureza que lhes concedia filhos e mais filhos, quando tinham a sorte de encontrar um homem que as adotassem, mesmo que fossem como segundas ou terceiras.  A mulher era apenas uma fêmea, a procriadora.
Nova Andradina, 03 de fevereiro de 2012.
Antonio Sales    profesales@hotmail.com


[1] Com base nas genealogias apresentadas no livro de Gênesis.

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