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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A GRAÇA “BROTA” DA DESGRAÇA?

Estava  lendo um texto produzido pela teóloga Jo Ann Davidson quando deparei com a frase: “antes do pecado, não havia necessidade de graça, porque não havia nada para perdoar, nada para desculpar, nada para cobrir”(1).
Parei a leitura. Veio-me uma dúvida. O que autora quis dizer com isso? Será que entendi o seu pensamento?
No meu entender a graça divina independe da existência do pecado. É como o oxigênio que “alimenta” a vida mas independe da existência dela. Ele deve existir antes da vida para alimentá-la quando ela aparecer. O oxigênio penetra em nossos pulmões de forma espontânea, natural e, por isso, “imperceptível”, mas constante. O oxigênio hospitalar é que é usado após a doença.
Perdão, no meu entender, é uma aplicação emergencial da graça. Na metáfora do oxigênio eu diria que o perdão é o oxigênio comprimido em um “balão” para socorrer o moribundo que já não mais consegue respirar sozinho. A graça, nessa metáfora, é o oxigênio (em seu estado natural) da vida espiritual. Ela é também o oxigênio da vida relacional.
Sem graça não há graça, isto é, sem a graça a vida perde o sentido, somos desgraçados. Sem a graça na vida somos impiedosos, arrogantes, estúpidos, etc. É a graça que promove o amor, a tolerância e a compreensão entre as pessoas. O perdão é uma dose condensada de graça para restaurar a vida do desgraçado. Desculpar só é possível se a graça estiver presente e for o motor da vida da pessoa que foi ofendida.
A graça é o motor das ações de Deus. Criar foi um ato de graça porque foi um ato de amor e o amor é filho da graça. Só ama quem está dominado pela graça, ainda que não saiba disso. É como no caso da criança que vive porque respira embora não saiba que está respirando.
Do modo como a autora escreveu tive a impressão de que ela admite que a graça brota da desgraça. Que é preciso haver desgraça para que haja graça. Se esse pensamento está correto então poderíamos também afirmar que misericórdia brota da miséria? 
Penso que a compaixão pelos miseráveis se manifesta, se torna visível, quando estes se apresentam mas ela não brota naquele momento. Ela existe antes. Se não fosse assim todo mundo se compadeceria de um miserável ao vê-lo.
Se a graça é um atributo divino ela deve ser eterna e há necessidade dela antes mesmo de cairmos na desgraça. Pode ser que ela se torne visível quando há uma necessidade explícita. Pode ser que ela seja intensificada em determinados momentos, porém, desnecessária, nunca foi e nunca será.
O perdão pode ser emergencial, mas a graça deve ser perene.
Ainda metaforicamente: a graça é o ar que enche o pneu de um carro. Antes de o carro começar a rodar o pneu deve estar cheio e permanecer cheio durante toda a viagem. Uma infusão especial de ar (perdão) deve ocorrer quando houver uma des-graça, um esvaziamento do ar (graça)
Concluo que a graça já era necessária antes da queda do homem e o perdão, somente depois.
Que acha o leitor?

Campo Grande, 27 de janeiro de 2012.
Antonio Sales                        profesales@hotmail.com

(1)DAVIDSON, Jo Ann. Juízo e graça no Éden. In DAVIDSON, Jo Ann. Vislumbres do Nosso Deus. Lição da Escola Sabatina de 23/01/2012. Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012

8 comentários:

  1. Caro Professor, no meu entender, a graça é uma qualidade de Deus, um atributo,e portanto,eterna. O significado é "favor divino não merecido". Concordo com a autora quando diz que não existia a necessidade da graça antes do pecado. Ela não disse que a graça nao existia, apenas disse que não era necessário para o ser humano naquele momento. Sem pecado, o salário era a vida eterna, o homem não necessitava de um "favor" divino para viver eternamente. A partir do momento que o homem decidiu pecar é que a graça se tornou necessária como o único remédio para curá-lo do pecado, pois o salário do pecado é a morte.
    Um abraço

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  2. Olá, Ramos. Gosto dos seus comentários. Eles são provocativos.
    Posso provocá-lo também?
    Você diz que graça é "favor divino não merecido". Afirma também que “o homem não necessitava de um "favor" divino para viver eternamente”. Posso concluir que o homem viveria eternamente por méritos próprios? Houve uma época em que a vida eterna (do homem) não dependia de Deus?
    O que o ser humano “conquistou” na verdade foi:
    1. A vida eterna ( a morte veio com um “presente”)?
    2. A morte, pelo pecado (a vida eterna é uma dádiva)?

    Você diz ainda: “Concordo com a autora quando diz que não existia a necessidade da graça antes do pecado.”
    Questões:
    Existe alguma coisa desnecessária, inútil, inerte? Existe, talvez você diga, o cadáver. Certo, mas quanto tempo ele dura? Penso que as coisas que não atuam (inúeis) são “voláteis”, têm pouca duração.
    Se existisse uma graça inútil (inerte) antes do pecado isso significa que se não houvesse ocorrido o pecado a graça seria eternamente inútil? Nesse caso, o pecado foi necessário para dar sentido à graça? Se é isso então, realmente, a graça (como algo significativo, útil) “brota” da desgraça?
    Não será a graça que dá sentido à vida?
    Ficam as questões.
    Um abraço

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  3. Professor

    Temos que usar um pouco dos 100 bilhoes de neuronios que possuimos náo é? rs... A discussao, a provocao com respeito é sempre salutar.. Mas vamos as consideracoes.

    1. Deus criou o homem para viver eternamente, certo? Vamos esquecer a predestinacao ou a onisciencia de Deus por enquanto. O homem nao precisava de um favor "imerecido". Poderia até precisar de favores (sol, ar, agua, etc) mas fazia por merecer, visto que andava segundo a lei de Deus, isto é, nao pecava. Esse favor merecido nao era a graca. Podemos dizer que era o amor, o cuidado, ou qualquer outro atributo de Deus, mas nao era a graca. A partir do momento que ele peca, ele nao merece mais a vida eterna. Deus de uma forma tremenda, dá ao ser humano a possibilidade de voltar a viver eternamente, mesmo pecando, mesmo nao merecendo. Essa possibilidade ou essa valvula de escape se chama graca. A graca , o perdao, a misericordia,e outros adjetivos de Deus vem de uma raiz que é o amor, e é eterno.
    2. A graca era desnecessaria e inutil antes do pecado, sim. Assim como o perdao, a misericordia, ou a tolerancia.
    3. O homem viveria eternamente se nao pecasse. Se ele cumprisse a lei de nao comer da arvore do bem e do mal, mereceria viver.
    4. A graca brotou" da desgraca. Se a desgraca que o sr se refere é a entrada do pecado.
    5. A graca nao era inutil antes do pecado, porque ela nao existia .
    6. Hoje (apos o pecado) a graca dá sentido a vida. Antes do pecado, nao.

    Só para o sr pensar: Deus perdoava Adao e Eva antes do pecado?

    Um abraco.

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  4. Errata!!!!
    No item 2, a palavra inutil deve ser desconsiderada..rs

    um abraco..

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  5. Olá Ramos

    Não tenho tudo isso d e neurônios não e agora com esse debate a metade está sendo queimada. Vão sobrar uns 10 mil somente (rsrs). Mas, vamos lá:

    1. “O homem não precisava de um favor "imerecido"”. Por quê? “Andava segundo a Lei de Deus” responde você. Será? Por que foi dada a oportunidade de provar isso? Se já estava definido isso fazia sentido Deus propor a opção de escolha? Penso que ele estava obediente, mas não era obediente. Penso que ele andava no caminho por não conhecer o atalho.
    Era uma criança que exigia cuidados. Isso é graça ou obrigação divina?
    2. Se a graça não existia, então Deus foi tomado de surpresa com o pecado? Teve que criar algo novo para fazer frente ao problema?
    3. Se a graça existia, mas era desnecessária, temos outro problema. Tudo que é desnecessário incomoda e, ou a gente se desfaz dele ou se arruma uma utilidade para ele. Nesse caso, o pecado foi útil à graça? Ele deu sentido à ela? Outra vez vem a questão: a graça (como nós a conhecemos) brota da desgraça (pecado)?
    4. “O homem viveria eternamente se não pecasse. Se ele cumprisse a lei de não comer da arvore do bem e do mal, mereceria viver.” Não creio que tenha sido uma lei. Era uma opção porque sem ela o livre-arbítrio não existiria. Penso que a arvore já foi uma manifestação da graça. “Dou-te o direito de escolha”, disse Deus.

    5. “Essa possibilidade ou essa válvula de escape se chama graça”. Chamo-a de “oxigênio hospitalar” , uma dose extra e reforçada da graça, mas não a graça “natural” que os mantinha vivos espiritualmente.
    6. A graça , o perdão, a misericórdia,e outros adjetivos de Deus vem de uma raiz que é o amor, e é eterno”. Entendo que o amor é filho da graça.

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  6. Professor, acho que o sr. tem mais de 100 bilhoes de neuronios..rs E nao está gastando nao..

    Vamos as consideraçoes:

    1. Acredito que estamos falando da mesma coisa. A diferença está em como nomeamos a atitude tomada por Deus. Se acreditarmos que Deus é amor, em essência, isto é, ele não tem amor,ele é amor, os outros adjetivos provem dessa raiz.
    A palavra graça significa: Favor imerecido de Deus. Mas esse favor imerecido de Deus poderia ter outro nome, por exemplo: Sales, Anderson, Cibele, letícia, etc. Mas mesmo tendo um nome, nada mais é do que uma extensão do seu amor, ou na verdade, o amor sendo revelado naquela situação, ou simplesmente pra aquela situação.
    A atitude de Deus em salvar o homem mesmo sendo um pecador incorrigível, é uma atitude que demonstra sua essência ou o seu amor. Essa atitude de amor, nunca tomada antes para com o homem, é chamada de graça.
    Analisando de uma forma mais profunda, Se Deus quisesse dar um favor imerecido para o homem antes dele pecar, significa que o homem nao estava atingindo,por seus méritos, o ideal que Deus queria, o homem estaria errando. Mas como errar se ainda nao era pecador? Ou o homem poderia errar, como uma criança erra,sem o pecado? Então por que não o criou de uma forma mais completa?
    O sr disse que o homem não era obediente antes de pecar, aí precisaremos de mais tempo para discutir isso,apesar de que acho que o homem era perfeito antes da queda.
    Sobre o livre arbítrio é necessário mais tempo pra discutirmos.
    2. Se acreditarmos que Deus é onisciente, Ele nunca pode ser tomado de surpresa. Então a atitude que Ele tomaria para com o homem após sua queda já era de seu conhecimento. Ele sabia que iria utilizar essa ferramenta no seu momento específico. Nao usou a graça antes, porque o homem nao havia pecado.
    3. A graça nao existia. O que existia era Seu amor, que num momento oportuno,já conhecido por Ele, foi demonstrado. Quero frisar que essa atitude do amor de Deus era apenas para após a queda do homem e não antes.
    4. Continuo afirmando que se o homem não viveria eternamente, pois o salário de não pecar é a vida eterna. (Perdão pela lógica empregada). O sr disse que não era uma lei, vou transcrevê-la: "E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente,
    Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Gênesis 2:16-17. Isso pra mim é uma lei. Existia a lei, se o homem quisesse cumprir ou não era outra coisa, ou o exercício do livre arbítrio. Do fundo do coração, não sei porque Deus colocou a árvore no jardim..rs. Podemos sentar outra hora pra discutirmos isso? rs
    5. Vamos fazer o seguinte: vamos renomear a palavra oxigênio hospitalar por graça e a palavra graça empregado pelo Sr, de amor, aí falaremos a mesma lingua..rs
    6.Deus é amor em essência, então não tem como a graça ser o pai do amor, ou a graça ser algo maior que Deus.

    Um grande abraço!!

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  7. No item 4 a frase correta é: "Continuo afirmando que se o homem não pecasse viveria eternamente,..."

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  8. Olá Ramos
    Estamos perto de chegar a um acordo. Você está mem convencendo.
    Concordo que a graça seja filha do amor mas não concordo em trocar nomes. Também não consigo entender a não existência da graça antes do pecado. E como nao consigo entender a existência de algo inútil, parra mim a graça era necessária.
    Vou ter que pensar um puco mais.

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