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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

AMOR E SEXUALIDADE-II

Falei sobre a sexualidade na adolescência masculina. Sobre o fervor provocado pelos hormônios, sobre o “cavalo selvagem” que se instala no interior do adolescente. Mas falei também do “cavalo domado” da vida adulta, isto é, dos hormônios em equilíbrio, dos impulsos sexuais controlados e do domínio sobre os órgãos sexuais. Isso acontece com a maioria dos homens; um ou outro permanece “adolescente” ou por excesso de hormônio ou por carência de “conquistas” bem sucedidas.
E na velhice? Diz Rubem Alves que os casais de idosos não vivem de sexo, vivem de afetos. Não significa que não se pratica sexo na velhice, significa apenas que ele tem outro sentido. Significa que outros são os motivos para a intimidade. É na velhice que o ato sexual é belo porque a beleza de uma relação reside no controle. Alves (2001) diz que o “poder bruto é feio” e, citando Nietzsche, “quando o poder se torna gracioso, então a beleza acontece”. Surge então o sexo movido a ternura, o sexo verdadeiramente belo.
Os velhos sabem esperar, preparar o ambiente, aguardar o momento oportuno.
“Aí os órgãos sexuais descontrolados deixam de se movimentar por conta própria. Só se movimentam quando comovidos pela ternura e beleza. Sem a ternura da beleza eles ficam inertes. Os tolos acham que é impotência. Ou frigidez. É nada”(ALVES, 2001, p.115).
Essas considerações nos falam de alguns cuidados. Os casais precisam desenvolver a ternura se quiserem envelhecer juntos e tendo uma velhice saudável. Para que haja ternura é preciso que haja afinidades, respeito e cooperação. O diálogo deve ser possível e para que ocorra o diálogo não pode haver imposição de ideias, controle e ciúmes.
O respeito mútuo, a cooperação, a liberdade que um concede ao outro produz o amor e o amor na velhice tem poder revitalizante, produz potência sem hormônios. O amor na velhice rejuvenesce.
Rubem Alves escreve uma história de amor que começa com um casal de jovens enamorados. Ela, por imposição dos pais, se casou com outro rapaz. O moço, sem alternativa também se casou. Ele gostava de tocar violino, mas a esposa detestava o som desse instrumento. Para agradá-la, o violino ficou guardado por décadas. Um dia muito tempo depois ela enviuvou. Se já estava envelhecida, mais envelhecida ainda ficou. Algum tempo mais, ele também se enviuvou e ambos se reencontraram. Ele estava com 79 anos e ela com 76 quando se apaixonaram novamente e se casaram. O amor trouxe novo ânimo. Ele voltou a estudar violino e tirar daquelas cordas, que por anos estiveram mortas, uma vibrante melodia. Podia agora fazer serenata para a sua amada.
Um ano depois do casamento ele morreu e quando Rubem Alves publicou uma crônica sobre essa história ela ligou para o filósofo para falar dos bons momentos que passaram juntos. Falou do novo vigor que o encontro trouxe para ambos, do profundo significado daquele último ano de vida deles e concluiu: “não ligávamos muito para sexo, mas vivíamos de ternura”.
Sexo na juventude é necessidade física. É como a fome, a sede, o sono, a vontade de fazer xixi. É necessidade emocional: necessidade de demarcar o território, de  dizer quem manda.
Na pessoa madura o sexo é realização pessoal, como comprar uma casa ou escolher um carro juntos. É algo para os dois. É como almoçar ou jantar juntos em um restaurante que ambos gostam, ou curtir uma viagem parada por parada. Primeiro o orgasmo mental e depois o contato físico na intimidade do casal.
Na velhice sexo se confunde com afeto. É o mesmo que abraçar, beijar, passar horas conversando e relembrando as realizações do passado. Depois, só depois, os genitais se tocam
Campo Grande, 24 de dezembro de 2011.
Antonio Sales            profesales@hotmail.com

Referência
ALVES, Rubem. As cores do crepúsculo: a estética do envelhecer. Campinas, SP: Papirus, 2001.

3 comentários:

  1. Gostei do artigo Tio...muito bom!!!
    Gde abraço Lú

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  2. no auge de meus 40 anos, sei que não vou esquecer este artigo até chegar aos 60, e quando chegar, pretendo fazer como descrito no artigo. Aos 40, já deu para perceber que o amor, com mais ternura e menos sexo, é muito prazeroso.

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  3. É, com mais ternura a vida é bem melhor.

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