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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

AMOR E SEXUALIDADE

Minha formação puritana levou-me a conviver por muito tempo com alguns mitos que eu suspeitava cairiam um dia, mas não tinha como enfrentá-los na época. Quando ainda jovem, os homens e as mulheres eram  igualmente bombardeados com discursos recheados de moralismo cujas  justificativas apresentadas eram contraditadas pela minha experiência pessoal. A minha experiência dizia serem frágeis os argumentos apresentados. Não tinha como contestar porque, às vezes, não é prudente  apresentar a experiência pessoal para uma contestação.
Um dos arroubos de moralismo que assisti muitas vezes foi o discurso de que a vestimenta de uma mulher pode induzir um homem ao “adultério” mental com ela. Quando mais ela expunha o seu corpo mais um homem se excitaria por sua causa. Comigo, muitas vezes, acontecia o contrário, mas se falasse poderia me expor ao ridículo. Percebia que comigo quando não havia atração pela pessoa não importava como ela se vestia. Quando faltava a famosa “química” não havia roupa que dava jeito.
Talvez a regra valha para alguns homens que não procuram mulheres, procuram fêmeas simplesmente. Nesse caso eu diria que são portadores de algum distúrbio da personalidade e se comportam como animais travestidos de homem.
A estória, muitas vezes contada, de que o homem é seduzido pelo olhar e a mulher é seduzida pelo que ouve, sempre me deixou em dúvida. Fico em dúvida porque na realidade não sei como as mulheres pensam ou sentem, mas sei que para mim não funciona. Nem sou seduzido sexualmente simplesmente pelo olhar e nem tive sucesso em minhas investidas na tentativa de conquistar uma mulher pelo que eu lhe dissesse.
De qualquer forma eu aguardava mais informações para me posicionar sobre o assunto. Penso que encontrei. Encontrei lendo Rubem Alves, um filósofo da vida e psicanalista. Alves (2001) fez-me lembrar que na adolescência um jovem está dominado pela ebulição dos hormônios. Nessa fase, nos dias em que os hormônios estão mais  concentrados na corrente sanguínea, um rapaz “adultera” mentalmente com qualquer mulher, mesmo que ela esteja ausente. “Adultera” em sonhos, “adultera” pelo olhar, “adultera” pela lembrança, “adultera” pela foto. Na realidade esse “adultério” não depende do objeto e sim da quantidade de hormônios em circulação. Para alguns essa fase é mais longa, mas normalmente na fase adulta há um certo equilíbrio e domínio sobre o “cavalo selvagem” que está no seu interior. O “garanhão” começa perder forças e vai ganhando forma com o tempo, mas “o desejo sexual na adolescência é um sofrimento” para os homens, diz Rubem Alves.
É quando o poder dos hormônios é controlado que a beleza da masculinidade acontece. O que tem a mulher e sua vestimenta a ver com o “adultério” mental do homem? Nesse caso, nada. Evidentemente que essa conclusão não a isenta de ter cuidados com a vestimenta, pois se a mesma sugerir que ela está disponível (free, como dizem os jovens) corre-se o risco de uma investida (física ou verbal) imprópria por parte de um “cavalo selvagem” ainda não domado.
Vemos, portanto, que o discurso moralista que culpa a mulher pelos “pecados mentais” dos homens carece mesmo de fundamento. Eu estava certo quando duvidava dele.
Não faço a menor ideia do que tudo isso significa para  a mulher. Não sei como se sente uma menina, em termos de desejo sexual, quando os hormônios dominam a sua corrente sanguínea, mas sei que um homem fica em desespero. Os órgãos sexuais masculinos parecem adquirir autonomia quando se eleva a taxa de certos hormônios. Irrompem “gratuitamente sem necessitar de nenhuma provocação” (ALVES, 2001).
Campo Grande, 24 de dezembro de 2011.
Antonio Sales            profesales@hotmail.com

Referência
ALVES, Rubem. As cores do crepúsculo: a estética do envelhecer. Campinas, SP: Papirus, 2001.

2 comentários:

  1. Penso que a mulher não é culpada por alguém ficar excitado ao vê-la, acho que os homens naquela fase que os hormônios estão a flor da pele, não pode ver uma mulher de saia que logo cobiça, e não precisa ser nem saia curta, mas também penso que as mulheres não precisam também andar vulgarmente, ou, não dar chance a quem ve-la de se excitar, mas tudo isso é muito particular de cada um, cada pessoa tem que aprender a se controlar.

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  2. Decência fica bem em qualquer lugar, não é Paulo Cézar?

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