Nas
ciências o formalismo é inevitável. Todo produto de pesquisa que não for
sistematizado fica carente de validade. O conhecimento científico deve ser
apresentado na forma prevista pelas
normas, deve ser institucionalizado, portanto, formal.
Mas o
formalismo tem também o seu aspecto negativo. Se uma pessoa tentar começar uma
pesquisa pela forma sistemática pode correr o risco de não começar. O começo
nunca é totalmente formal; ele parte de incertezas, do aparente caos, de
questões que intrigam pela falta de respostas. Os passos iniciais da pesquisa
são titubeantes e, embora, tenhamos hipóteses ou objetivos traçados os dados
não são dados (o trocadilho é pertinente), são construídos pelo pesquisador. As
informações não estão organizadas, os objetos não estão em ordem e os sujeitos
nem sempre falam o que o pesquisador esperava ouvir. Enfim, os dados estão
imersos em um mundo de informações e, frequentemente, dispersos nas diversas
fontes. Os dados não se mostram, quase sempre estão ocultos e somente o olhar
atento do pesquisador pode desvelá-los e dar-lhes identidade.
Não se
começa uma pesquisa pela forma, mas pela falta de forma. Pesquisa-se para dar
forma.
Uma
critica que Morris Kline fez ao Movimnento da Matemãtica Moderna foi exatamente
com relação ao excesso de formalismo como ponto de partida.
Fazer
ciência é tentar descobrir a possível ordem presente num aparente caos. Ou
buscar origem da ordem pela sua decomposição em busca do caos que a originou.
Querer começar
de forma excessivamente ordenada pode inibir o trabalho.
Quando se
trata de religião o formalismo é mais perigoso ainda, mas o formalismo mais
perigoso não é aquele da rotina das coisas, do culto rotineiro. É aquele do
cerceamento do pensamento. Perigoso é o formalismo que engessa as pessoas e
inibe a produção de ideias novas.
Muitas igrejas tradicionais vêm convivendo com
certo grau de apatia por parte dos seus membros. Chamam isso de mornidão, numa
alusão ao estado laodiceano (Ap 3). As
pessoas estão indo à igreja mais por costume do que por entusiasmo ou
comprometimento.
Normalmente
os membros são condenados por essa situação em que se encontram como se fosse
por escolha própria que perderam o entusiasmo. Perda de entusiasmo é doença.
Perda de entusiasmo é ausência de prazer. E, nesse caso, a ausência do prazer é
resultado de carência de sentido no que faz ou na fé que professa.
Meu pressuposto é que a ausência de prazer em ir
à igreja pode estar ligada ao dogmatismo que impede a livre manifestação do
pensamento. Tem relação direta com o formalismo exacerbado, não da ordem do
culto, mas na doutrinação, nas exigências impostas e não esclarecidas, na
prática de castração do pensamento, na esterilização das ideias, na repetição
do discurso, na preocupação com a aparência sem alimentar o interior.
A
ausência de prazer decorre da intimidação, do monopólio da “verdade” por parte
da liderança, do medo de expor o que se pensa. O prazer fugiu porque o culto é
um monólogo, um suposto ato de falar em nome de deus. Os discursos são
proferidos em nome de um deus que desconhece as necessidades humanas, que
despreza o intelecto, que zomba da nossa inteligência, que se alimenta de
preconceito contra tudo que se passa ao nosso redor, que despreza as
potencialidades dos jovens e que procura intimidar para não perder a causa.
Em muitos
discursos (pretensamente inspirados) vê-se claramente a “inspiração” de um deus
mentecapto.
Nessas
igrejas o culto, ao invés de ser provocativo, é imposto, não deixa espaço para
participação, é inquestionável, portanto, tem efeito mortífero.
Participo
do pensamento de Finley (2013) quando afirma que “O ritual religioso tem pouco
poder para transformar vidas. O formalismo religioso torna as pessoas
espiritualmente estéreis. Sozinha, doutrina não transforma corações. O poder do
testemunho do Novo Testamento estava enraizado na autenticidade de vidas
transformadas pelo evangelho. Os discípulos não estavam encenando. Eles não
estavam apenas cumprindo formalidades. Não tinham uma forma de espiritualidade
artificial. O encontro com o Cristo vivo os havia transformado e eles não
podiam ficar em silêncio”.
A quietude
dos membros e o absenteísmo quase generalizado proveem do vazio proporcionado pela
própria igreja.
Perda de prazer é doença e doença não se cura com acusação, com “xingamentos”, com deboche ou com desprezo. Ausência de prazer se cura com ações afirmativas.
Perda de prazer é doença e doença não se cura com acusação, com “xingamentos”, com deboche ou com desprezo. Ausência de prazer se cura com ações afirmativas.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Nova
Andradina, 27 de julho de 2013.
Fonte da
Citação
FINLEY,
Mark. Testemunho e serviço: o fruto do reavivamento. In: Reavivamento e Reforma. Lição da Escola Sabatina de Adultos de
23/07/2013. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013.