A
expressão que dá o título a essas considerações pertence a Yancey. É assim que
esse autor considera os heróis da fé (Hb11).
Ele tirou
a expressão da experiência de um amigo que nadava em um lago numa tarde. Estava a 90 metros da margem quando
inesperadamente caiu densa neblina e ele não mais sabia para onde ir. Ficou nadando
em círculos e correndo o risco de ser vencido pelo cansaço quando alguém
resolveu gritar na margem dando-lhe direção. Tornou-se um "sobrevivente da
neblina".
José do
Egito teve sonhos divinos de que seria o líder dos irmãos, acreditou neles,
divulgou-os e foi parar no fundo do poço, vendido como escravo e, por fim, na
prisão. A neblina cobriu a sua vida, suas perspectivas (seus sonhos) ficaram
imersas num mar de ondas bravias, coberto por neblina e sem nenhum farol à
vista.
Por não ter desistido, finalmente ancorou o seu "barco" no porto. "Vozes" na margem indicavam a direção a seguir, as orientações espirituais e éticas recebidas no passado indicavam a direção da margem e a confiança nessas orientações manteve viva a fé e a determinação. Ele sobreviveu à neblina.
Por não ter desistido, finalmente ancorou o seu "barco" no porto. "Vozes" na margem indicavam a direção a seguir, as orientações espirituais e éticas recebidas no passado indicavam a direção da margem e a confiança nessas orientações manteve viva a fé e a determinação. Ele sobreviveu à neblina.
Outro
sobrevivente da neblina foi Abraão. Saiu da terra dos caldeus onde era próspero
e se foi sem saber para onde ia. Em Canaã uma terrível seca fez a miséria bater
em sua porta e ele teve que descer para o Egito onde sua esposa foi cobiçada
pelo Faraó. O filho prometido por Deus apareceu por volta de meio século depois
quando sua esposa já estava com noventa anos e ele com cem. A neblina cobriu o
lago da sua vida, mas ele sobreviveu. “Vozes” da margem o chamavam e indicavam
a direção. Ele procurava indícios da direção divina por toda parte para
reorientar constantemente a sua vida. Não é por acaso que Abraão é chamado “pai
da fé” e Tiago diz que foi pelas obras que a fé se consumou (Tg 2: 21).
Um homem
que foi chamado ara ser profeta e que viu a sua vida coberta por neblina foi
Jeremias. Foi lançado no calabouço (Jr 37-38), foi insultado por Hananias (Jr
28), foi mal interpretado pelo rei (Jr 37), teve de depressão porque a sua
cidade vivia do engano e da exploração e foi arruinada (Lm 1-5). Chorou
profundamente por ela. Ele disse “Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do seu
furor. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz. Deveras se tornou contra
mim; virou, de contínuo, a sua mão todo o dia” (Lm 3:1-3).
Jeremias também foi um sobrevivente da neblina.
Yancey diz: “E Moisés, escolhido a dedo como
libertador do povo hebreu, que se enfiou num deserto durante quarenta anos,
caçado pela guarda pessoal de um faraó. E o fugitivo Davi, ungido rei por ordem
de Deus, e que passou uma década seguinte esquivando-se de lanças e dormindo em
cavernas”.
Dessa forma aprendemos que o caminho traçado por
Deus para nós não é fácil. Implica mais do que ter fé. Implica em ter ideal e
estar disposto a lutar por uma causa.
Essa causa não é a oração intercessória, é o
trabalho intercessório. Não são madrugadas de oração, são dias e dias de luta
enfrentando as intempéries físicas e sociais, lutando contra as mazelas, competindo
com os bons para oferecer um trabalho melhor.
Somente quem se dispõe a ouvir o clamor dos
oprimidos, sair do comodismo e lutar por uma sociedade mais justa, mais
igualitária, se deparará com neblinas no trajeto do seu barco. Também somente
eles ouvirão “vozes vindas da margem” para guiá-los. Somente eles serão
“sobreviventes da neblina” e comporão outro capítulo onze de outro livro aos
“hebreus”.
Os demais serão banhistas do raso, aqueles que
desfrutam da praia somente pelo olhar, que fotografam o lago e apenas imaginam
como será um dia de neblina naquelas águas. Para fazer isso não precisa ter fé,
basta ser acomodado. Não haverá nenhum capítulo de livro para eles.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
Campo Grande, 13 de julho de 2013.
Fonte da citação:
YANCEY, Philip. Decepcionado com Deus. São Paulo:
Mundo Cristão, 2004, p. 217.
Ha possibilidade de sobrevivente de neblina nos dias de hoje?
ResponderExcluirPenso que estamos sobrevivendo apesar da neblina. Algumas lideranças religiosas estão obscurecendo o nosso olhar, dificultando o nosso conhecimento de Deus. Umas pelo apego à lei e ao moralismo, outras pelo desejo de dinheiro e poder e, outras ainda, pela falta de preparo dos seus líderes.
ResponderExcluirÉ engano pensar que as religiões mais antigas, mais consolidadas estão melhores do que as outras, do que as novas.
Muitos lideres religiosos estão navegando sob a neblina da descrença naquilo que pregam enquanto se apegam ao posto por causa do salário e da falta de preparo para manifestar a sua descrença. As mensagens repetitivas evidenciam isso e a suposta cautela de alguns revela insegurança.