O pastor
era visitante. Pertencia à elite administrativa de uma organização religiosa não
congregacionalista. Há uma hierarquia na instituição e ele estava a caminho do
topo. Viera para ver o que se passava com
a igreja que, na sua perspectiva, estava
um pouco "vagarosa",
isto é, não estava correspondendo aos
padrões estabelecidos. Pelo visto o pastor local, pressionado pelo
"pouco" resultado obtido em seu trabalho, "entregara" a
congregação.
O
superior imediato veio "ensinar" a igreja e, como de costume, tomou como
ponto de partida um pretexto bíblico.
Começou com a triste história de Uzá (2Sm 6:7 ) o infeliz homem que
tentando proteger a arca de Deus, para que não caísse do carro de bois,
segurou-a e foi fulminado (no meu entender, pelo remorso resultante de uma
educação religiosa que intimida e
sobrecarrega o sujeito de culpa; no entender dele, pela ira divina).
A lição
que ele tirou e transmitiu a partir do texto foi: para Deus ou se faz bem feito ou não se deve fazer. Portanto, se
você está aqui e não esta fazendo bem feito, se não está vivendo como se espera
que viva está perdendo o seu tempo. Dizendo em outras palavras: vocês são uns
estorvos ao progresso da instituição. Estão perdendo tempo e atrapalhando
outros.
Curiosidade:
toda congregação balançou a cabeça em sinal de aprovação.
O
absurdo: ninguém tomou a reprimenda para si. Ninguém supôs que era ele quem
estava sendo convidado a mudar de vida ou
a se retirar. Nem mesmo o pregador suspeitou que o problema pudesse ser ele.
Esse é o
problema (inclusive do pregador): supor que o problema sempre é o outro. Quando
a mensagem é indireta então ela “atinge” os outros em cheio. É sempre assim. Ninguém se encontra nessas
mensagens obtusas. Quando se fala sem querer falar ou sem saber o que fala
ninguém é beneficiado. Quando se parte de pretextos para "lavar a alma" ou fazer desafetos com base em
ideias preconcebidas atira-se em todo mundo e não acerta em ninguém.
Assusta, mas não atinge o objetivo. Acusa, mas não ensina. Aponta falhas, mas
não diz como corrigi-las.
O maior
absurdo, porém, foi ninguém ter percebido que essa logica é a lógica da
exclusão e que a lógica da exclusão não é divina.
Jesus
quando andou entre os homens acercou-se de rudes pescadores dispostos até a
matar e aceitou a participação feminina,
uma categoria excluída na época. Como se isso não bastasse, o Mestre deu
oportunidade a uma samaritana, desacreditada na sua aldeia (Jo 4), perdoou uma
adúltera (Jo 8) e aceitou que uma outra pecadora O servisse (Mc 12).
Atendeu um escriba que O procurou à noite (Jo
3), perdoou o condenado que se
arrependeu na última hora (Lc 23) e abençoou uma “imunda” que tocou em suas
vestes (Mc 5:24-34). A lógica de Cristo era a lógica da inclusão.
Nós
excluímos porque não sabemos ensinar, não sabemos tolerar e porque somos
incapazes de tratar as pessoas com o respeito que merecem. Quanto menos
competentes formos mais excludente seremos. A relação entre competência e
exclusão é inversa.
Há, no
meu entender, duas formas usadas por algumas igrejas para excluir:
a forma direta e a forma indireta.
a forma direta e a forma indireta.
Na forma
direta a mensagem é agressiva, quase citando nomes, apontando erros, exigindo perfeição,
reforçando o caráter exigente de Deus. É de exclusão porque expõe, inibe e proíbe.
Na forma
indireta, os discursos enfatizam o medo e uma excessiva necessidade de cuidados.
Apontam as possibilidades de erro ou fracasso "em cada esquina" e reforçam
o mal existente no mundo, a constante piora deste, a decadência moral e a
incapacidade humana de reagir. Com esse discurso criam o medo e a apatia. Intimidam
e com isso excluem. Depois de conseguirem produzir a insegurança e apatia
condenam o membro pela pouca iniciativa, pela sua timidez. Colocam-no em estado
de letargia espiritual e social, incapacitam-no para as lutas e depois culpam
pela apatia da igreja e o colocam sob a condenação de um Deus que espera ação.
A igreja
deveria ser um lugar de inclusão porque deveria ser um espaço para educação e
encorajamento. Ali as mensagens deveriam ser claras, bem fundamentadas,
propositivas, acolhedoras (Mt 11:28-30) e atrativas (Jo 12: 32). Deveriam
estimular, não condenar. Estimular boas práticas, ensinar como fazer, dar
oportunidade aos inexperientes sem exigir perfeição, apoiar os fracos,
estimular a tolerância dizer palavras de ânimo em todos os seus discursos.
Essa
hipótese de que se deve fazer bem feito ou não fazer, é simplesmente absurda.
Ninguém de bom senso erra porque quer. Erra-se por não saber fazer ou por
faltar recursos para um bom trabalho.
Os
sujeitos faltos de senso critico ou de ética não encontram espaço em um ambiente
de pessoas preparadas e honestas. Eles saem sem serem convidados, eles se
autoexcluem como o próprio Judas.
Em um
ambiente de pessoas esclarecidas, reflexivas, que aprenderam a exercer a prudência
e que são livres para expor a sua opinião, os sujeitos mal intencionados ou
incompetentes não ocupam espaço por muito tempo.
Se esses
sujeitos estão se mantendo é porque a instituição não está cumprindo o seu
papel de orientar e estimular boas práticas. O problema, portanto, é o pastor e
a instituição, não as pessoas que frequentam a igreja.
Antonio
Sales profesales@hotmail.com
Dourados,
17 de julho de 2013.
Sempre leio seu blog e nunca comentei, porém hoje não resisti. Também assisti a este mesmo sermão, acho que em outra ocasião, e também refleti neste jeito de “fazer sermão”, onde sempre estamos errados, desagradando a Deus.
ResponderExcluirPenso que para nós a exclusão feita pela igreja já se tornou algo natural, porque já nos acostumamos em sempre estarmos errados, tendo em vista que este é o foco da maioria dos sermões.
No meu entender, é quase “uma doutrina da igreja sermos os errados”, que pensar de uma maneira diferente, e principalmente fazer questionamentos é estar criando desordem.
Gisele.
É isso mesmo Gisele. É doutrina. Aliás, penso que é uma doutrina, um dogma, gerado pela incompetência para ensinar. Ele revela mais a fraqueza de quem prega do que o "erro" de quem ouve. Penso também que muitos membros já estão experimentando a "Síndrome de Estocolmo, já estão dando razão para quem os fere, já não conseguem mais se ver como bons.
ResponderExcluirObrigado pela participação.