Este ano tive um Natal diferente.
Diferente em muitos aspectos.
Em primeiro lugar estava extremamente
cansado para escrever algo. O segundo semestre do ano foi exaustivo e a cabeça
pedia uns dias de descanso para poder produzir novamente enviar uma mensagem
aos meus amigos e leitores. Foi um ano muito produtivo, mas também muito
estressante.
Para escrever sobre o Natal é preciso
estar tranquilo, para festejar com os amigos, mesmo que seja através de uma mensagem, é preciso
estar calmo.
Viajei esperando que no Natal estivesse
já no destino planejado e que, após algumas horas bem dormidas, estivesse
pronto para comunicar boas ideias, congratular, falar de paz. Mas foi aí que
tive um segundo momento não muito feliz.
Estávamos no centro de Curitiba,
faltando apenas alguns minutos para chegar à casa de familiares quando, numa
rua muito movimentada e no horário de pique, tive o dissabor de chocar com
outro veículo. Ambos estávamos em baixa velocidade e, consequentemente, os danos
materiais foram pequenos e não houve vítimas. O proprietário do outro carro foi
muito cortês, mas ainda assim não evitamos de perder várias horas até que
acionássemos o seguro, aguardássemos o guincho, etc.
No dia seguinte, segundo os planos
iniciais, partiríamos cedo e tocaríamos direto para o destino, mas foi preciso
esperar algumas providências da seguradora o que atrasou a nossa viagem em mais
de duas horas.
Não pretendíamos sair do caminho.
Queríamos chegar ao ponto final em tempo de descansar, mas a notícia do falecimento de uma pessoa amiga, vítima do
câncer, nos levou para outra cidade e
com isso chegamos de madrugada no destino. Eram já as primeiras horas do dia 24
de dezembro quando batemos na porta do anfitrião.
A essas alturas faltava descansar um
pouco para que no dia 25 pudéssemos escrever e foi quando, no entardecer,
recebemos a notícia de que nossa casa tinha sido arrombada e estava uma verdadeira desordem. No
amanhecer tomamos o caminho volta e ficamos desolados quando vimos a forma como
a casa havia sido deixada pelos malfeitores que, além de nos furtarem objetos
que somados dariam mais de R$ 5.000,00, fizeram a malvadeza de jogar tudo no
chão e pisar nas roupas e papéis.
Ainda não descansamos da viagem, do
trabalho de organizar a casa e já estamos cuidando do conserto do carro e
providenciando lavanderia para lavar as cobertas sujas de sola de sapato.
Agora, passadas algumas horas, é
possível avaliar com mais calma e pensar nas pessoas. Penso no Senhor Paulo,
homem gentil, civilizado, que tive a infelicidade de conhecer quando o meu
carro abalroou o seu. O seguro cobrirá os danos causados em seu veículo, mas não
tenho com ressarcir o estresse que lhe causei. Não tenho dúvidas que se morasse
perto procuraria manter amizade com a família e convidar para ceia do Ano Novo.
Sua esposa e sua mãe também nos trataram muito bem.
O Fernando e o Rafael, e respectivas
famílias, se fizeram presentes e nos ajudaram a diminuir o estresse que tais
circunstâncias provocam. Conhecem bem a cidade e contribuíram para que o
processo fosse menos moroso. Tudo ficou mais fácil por causa deles.
No domingo quando fomos à delegacia
registar o Boletim de Ocorrência fomos atendidos por acadêmicos, estagiários da
academia de polícia, que foram muito solícitos e gentis. Pena que o Estado
Brasileiro, em todas as suas instâncias, não está aparelhado para dar suporte
ao cidadão. Muitos profissionais estão repletos de boa vontade, mas há uma
série de obstáculos para se executar uma tarefa. Muito dinheiro é gasto nas
casas de leis, desviados em falcatruas e obras superfaturadas de tal modo que
não sobra para aparelhar as instituições que poderiam bem atender o cidadão.
Não sinto ódio pelos malfeitores e nem
desejo que uma tragédia os assole, mas também não estou sentindo pena deles, não os considero vítimas da sociedade e desejaria ver uma
polícia bem aparelhada tendo um encontro com eles. A obrigação de trabalhar
para ressarcir o prejuízo que deram ( a mim e a outros vizinhos que já foram
vítimas) lhes faria bem. Infelizmente nossos legisladores discursam em favor da ordem e ao mesmo inibem cada vez
mais a ação da polícia como se os malfeitores ficassem sensibilizados com uma
polícia reprimida.
Em nossa cultura perversa a Comissão de
Direitos Humanos considera como humanos
e assiste apenas os que não se comportam civilizadamente. As vítimas
sequer são lembradas em seus discursos. Entendem que já está sendo atendidas
pelo Estado e nem se dão ao trabalho de verificar se, de fato, estão.
E assim o Natal de 2014 passou de forma
atípica, mas estamos bem e o fato de termos muitos amigos e a família nos faz
pensar que valeu a pena, apesar de tudo o que aconteceu. Desejamos aos amigos e
familiares um Feliz Ano Novo e dizemos: obrigado por você existir.
Antonio Sales
Campo Grande, 30 de dezembro de 2014.