“Manter-se bonita custa caro”. A voz feminina chegou por acaso aos meus ouvidos. A frase ficou solta. Pensei em contextualizá-la. Fui conversar com a minha filha sobre o assunto. Comecei falando de mulheres bonitas e mulheres não tão bonitas. Ela atalhou: “pai, não existe mulher feia e mulher bonita. Existe mulher mal cuidada e mulher bem cuidada”. Duvidei e perguntei: por que, então, algumas mulheres mesmo recebendo um “polimento” ainda não adquirem “brilho”? Ela encurtou a conversa: “deve ser alguma mal amada”.
Fiquei quieto. Não entendo a alma feminina. Suas ilusões e desilusões são diferentes das minhas. As reações psicossomáticas também. Homem frustrado vira bêbado e mulher frustrada fica feia?
De qualquer forma resolvi contextualizar a frase. Não o contexto original, mas um contexto produzido pela minha mente inquieta.
Manter uma mulher bonita custa caro. Acredito. É preciso cabeleireiro, manicure, costureira, esteticista, cirurgião plástico e cartão de crédito com bom limite. É difícil manter tudo isso. Esses profissionais cobram alto preço e cartão cobra juros altos. Um colega professor dizia que quem quiser enriquecer-se basta montar um comércio para manter o luxo e o vício dos outros. Parece que ele tinha razão.
Ainda bem que muitas mulheres já se mantêm. Deve ser por isso que tem aumentado o número de mulheres bonitas e de cabeleireiro, manicure, etc., também. Os preços também devem ter aumentado. Não somente acredito que uma mulher bonita custa caro e dá serviço para muita gente como acredito que, em alguns casos, a beleza é impossível.
As mulheres que dependem dos maridos raramente ficam bonitas, pois além do controle financeiro deles tem o problema da autoestima delas que fica abalada. Viver entre mulheres bem cuidadas sem poder competir com elas não deve ser fácil. Nesses casos, além da rotina que se instala na casa, porque mulher desestimulada faz da casa um ambiente pouco agradável, ainda aparece o ciúme e as querelas decorrentes. Os efeitos colaterais de uma mulher não bonita são cruéis. Uma mulher dependente do marido, se é bonita pesa no bolso e não é não bonita pesa no relacionamento.
Quero dizer, porém, que uma mulher bonita não é somente aquela que vai aos profissionais citados ou que investe muito dinheiro na aparência pessoal. Uma mulher de bem com a vida, profissional realizada, culta, comedida ainda que se vista de modo simples é bela. É bonita uma mulher bem cuidada e bela uma mulher bem amada. Quando as duas qualidades se juntam numa única pessoa então não sei qualificar o resultado.
Por outro lado, a mulher que depende unicamente de profissionais para ser bonita é, realmente, muito cara. Portanto, mulher bonita e econômica é aquela que é inteligente, realizada, bem humorada. Nessa, os “arranjos” feitos pelos profissionais duram mais tempo e até um despenteado provocado pelo ventilador a enche de graça. Ela “brilha” com pouco “polimento”.
Mulher com um penteado especial e olhar de quem não está entendendo nada é feia. Mulher com vestido caro, mas que não sabe o que falar é feia. Mulher ciumenta é feia, não importa o que o esteticista ou cirurgião faça em seu corpo. Mulher acomodada é feia. Mulher ranzinza é feia. Mulher controladora é feia. Aliás, toda pessoa, homem ou mulher, mesquinha, não disposta a cooperar, que não se preocupa em incentivar e apoiar, que não valoriza o outro, que não respeita as diferenças ou não tem ética é feia, porque o seu caráter é feio.
Mulher não realizada nunca está satisfeita consigo mesma. Não há roupa que se ajuste no seu corpo. Ela experimenta dez vestidos antes de sair e o marido olha e não vê diferença entre o anterior e o posterior. A sua autoestima está deformada e não há roupa que se ajusta no corpo. Não há cabeleireiro que acerte no corte ou penteado, porque a alma dela está em ruínas. Se o marido tenta intervir ela ainda diz que não está “pedindo opinião”.
Antes de concluir esse pensamento penso que há dois tipos de beleza: a beleza da Forma (exterior, aparência) e a beleza do Ser (interior).
A beleza da forma pode ter três fontes:
1. A razão áurea
Falar em razão áurea é o mesmo que falar em número de ouro ou número Fi. O nome Fi foi atribuído pelo matemático americano Mark Barr que resolveu homenagear Fídias, o escultor grego que teria vivido entre 490 e 430 a.C. e utilizado a razão áurea nas suas esculturas.
O número de ouro é 1,6180339887... , ou o seu inverso 0,6180339887... , e é irracional.
A razão áurea também é conhecida por divina proporção e diz-se, que num segmento AB , existe uma divisão áurea quando o segmento é dividido por um ponto P em duas partes de tal forma que a maior parte seja média proporcional entre o menor e o segmento todo.
Preferimos não gastar tempo teorizando sobre Fi e ir direto à sua aplicação.
Os escultores gregos e posteriores consideravam que uma estátua estava perfeitamente constituída (bela) se a razão entre a medida do segmento que determina altura do chão até o seu umbigo e a medida do segmento que determina a altura da estátua for igual ao número de ouro (0, 618...). Da mesma forma a razão entre o segmento que une o umbigo ao topo da cabeça e a medida do segmento que determina altura do chão até o seu umbigo é 0,618... .
Essa mesma razão vale para o rosto. A razão entre a altura do queixo até à linha dos olhos e a altura do queixo até o topo da cabeça também deve ser 0,618... .
Segundo os estudiosos da arte uma escultura que atende esses requisitos matemáticos é agradável aos olhos. Nesse caso, uma mulher que atendesse a esses requisitos seria a mulher matematicamente bela.
2. A simetria (para coisas como objetos, penteados, tecidos, etc.) e a regularidade ou padrão. Em cada região o conceito de beleza exterior é diferente de acordo com a regularidade ou frequência com que aparecem certas particularidades. Em algum lugar do oriente as mulheres mais bonitas são as que têm o pescoço mais comprido e cheio de argolas. Aqui elas seriam feias. Bonito é o que é mais freqüente, o que está na moda.
3. A unicidade ou o inusitado. Quando tudo parece igual, o diferente pode ser bonito.
A beleza do Ser está relacionada com a autoestima, a inteligência, a confiabilidade, a competência, a realização profissional, o linguajar adequado, a ética, a cooperação.
Para concluir: mulher bonita custa caro? Sim e não. Se a sua beleza depende somente do exterior (da forma), sim. Ela é muito cara. Se sua beleza é resultado da aparência exterior e do produto interior, então é preciso rever o que foi dito. Se, além da junção da beleza interior com a beleza exterior, ela ainda se mantém, paga os custos da beleza, então o marido tem uma mulher bonita de graça.
Parabéns para ele!
Campo Grande, 13 de janeiro de 2012.
Antonio Sales profesales@hotmail.com