Há um quinto motivo para ir igreja. É o terceiro na perspectiva de Yancey (2010). Devo ir à igreja para olhar para fora. Esse “fora” me inclui porque atuo no mercado de trabalho, enfrento conflitos familiares e trabalhistas. Não é um olhar para fora pensado somente nos outros, com o objetivo de ver o horror dos noticiários e as ameaças do tempo ou das pessoas e depois simplesmente denunciar e por grades nas janelas para que os outros não me atinjam. Não é o olhar com desprezo para aqueles que não comungam com as nossas ideias.
Enquanto estou na igreja, se falei com Deus, se falei com os meus irmãos, posso agora olhar para fora em busca de oportunidades de serviço.
Olhando para fora vejo falta de ética na política, conflitos familiares, famílias destroçadas pelas drogas, pessoas desempregadas, jovens sem perspectiva e tantos outros problemas que precisam de enfrentamento. Um enfretamento que não posso fazer sozinho, mas posso fazer com a minha comunidade e em nome de Deus.
Em algumas denominações religiosas os membros incorporam a ideia de que olhar para fora é levar uma cesta básica em determinadas épocas do ano, de preferência no Natal. É a versão evangélica do “bom velhinho”, o Papai Noel, que uma vez por ano passa distribuindo presentes e depois nos abandona por mais doze meses.
Uma cesta básica em um momento de emergência e justificável, mas fazer desse procedimento o centro da assistência social é nutrir a pobreza. Mais digno do que uma cesta básica é o preparo para o trabalho, é levar orientação, ensinar sobre o uso do tempo e dar oportunidade de emprego.
A comunidade religiosa deveria planejar cursos de administração do orçamento familiar, manicure, costura, artesanato, gerenciamento de conflitos familiares, posicionamento ético, canto, arte de falar em público, mediação de conflitos, relações pessoais, informática básica, cuidado de crianças e de idosos e a arte de contar histórias (útil para aproximar os idosos dos seus netos). Poderia ainda proporcionar reuniões de “autoajuda”, a saber, reuniões de aconselhamentos coletivos onde os membros se aconselham mutuamente. É um trabalho muito grande para uma pessoa, mas possível para uma comunidade.
“Guiar no serviço” deveria ser mais do que um slogam. Deveria ser uma prática contínua, um trabalho apoiado pela comunidade de crentes.
Conheço alguns trabalhos que dão certo e merecem ser imitados. Tenho o privilégio pessoal de colaborar, ainda que não com muita regularidade, com projetos dessa natureza.
Em Campo Grande, o professor e jornalista Genival Mota investe nos jovens. Há doze anos ele dirige o que denominou de “Projeto de Vida”. O programa tem por objetivo preparar o jovem para a vida através de leituras, palestras e atividades práticas. Muitos deles venceram a timidez, adquiriam o hábito da leitura e hoje estão no mercado de trabalho graças aos esforços do Mota.
Um convênio com o Hospital Adventista do Pênfigo tem possibilitado o acesso dos jovens do Projeto de Vida ao programa jovem aprendiz. Hoje o seu trabalho começou se estender para outras comunidades onde há pessoas que se preocupam com os jovens e os apoiam.
Ainda em Campo Grande, MS, temos o trabalho do senhor Charles Ibanez em favor dos idosos. O Centro de Apoio aos Idosos ou CAI desenvolve atividades de orientação, de lazer e de assistência aos menos favorecidos que após anos de lutas sentem–se sozinhos ou inseridos em uma família que não tem tempo para eles. Não sei precisar o número de anos em que o irmão Charles, como é conhecido o coordenador do CAI, vem se empenhando em favor dessa classe de pessoas, mas penso não exagerar se disser que ultrapassa a duas décadas.
Em nível de Brasil temos os grupos de apoio Amor Exigente (AE). Composto por voluntários o programa AE se distribui por todo o Brasil e outros países da América do Sul e tem se empenhado em apoiar famílias que têm a infelicidade de se ver desestruturada pela presença da droga ou de um “comportamento droga”. O AE tem um programa de trabalho que vem dando certo e são inúmeras as famílias que se reergueram graças às lições que aprenderam lá.
Por que não pode a igreja empenhar-se em um projeto ou programa dessa natureza?
Quando vou à igreja e olho para fora busco oportunidades de serviço e conto com o apoio dos irmãos para enfrentar os desafios que o “serviço” me apresenta.
YANCEY, Philip. Igreja: por que me importar? São Paulo: Vida Nova, 2010.
Nova Andradina, 10 de setembro de 2011.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Muito apropriado seu texto; toca em pontos práticos para se fazer nas comunidades das igrejas. Agradeço mais uma vez pelo seu apoio e participação no Projeto de Vida e por ter sido citado como exemplo de atividade que ajuda os jovens;parabéns também pelo reconhecimento do trabalho do Irmão Charles e do Amor Exigente.
ResponderExcluirPrecisamos tornar público o que está sendo feito e dizer que como igreja podemos e devemos fazer muitas coisas, porque este é o verdadeiro evangelho.