Já vimos no primeiro artigo desta série que não se justifica ir a igreja somente para adorar a Deus. É preciso encontrar outras razões. Falamos da necessidade que temos de aprender a viver como cristãos e a igreja deveria ser um lugar para ensinar esse viver. Essa perspectiva exige que os pregadores preparem sermões educativos. Sermões que não tenham o ranço da condenação e nem tome por base pressupostos ou postulados que “brotam” na cabeça, inconsequentemente. Exige pesquisa, vivência com o povo para sentir as suas angústias e uma boa formação moral e intelectual para não faltar com a ética, com a verdade científica e ainda não ferir os princípios mais elementares da lógica.
Entendo que uma segunda razão para ir à igreja seja a comunhão. Comunhão com os irmãos. Precisamos pertencer a um grupo que partilha da mesma fé, da mesma esperança, das mesmas crenças. Necessitamos sentir-nos aceitos com nossas crenças em algum lugar. A igreja é esse lugar. Sentimos falta de conversar sobre a nossa fé, de falar da nossa experiência cristã, de cantar hinos que outros apreciem também, de mostrar a Bíblia nova que compramos, de usar a nossa voz para cantar para um público que aprecia aquela música que nos faz bem. Temos necessidade de receber cumprimentos por termos aquela crença.
Além disso, precisamos ainda de sorrisos sinceros, de abraços afetivos, de tapinhas nas costas, de uma conversa em particular com alguém, de fazer uma confissão a um amigo de confiança e assim por diante.
Os sermões poderiam ser mais curtos para sobrar tempo para um intervalo na programação para um “recreio”. Um suco, um bate-papo, uma brincadeira etc., por certo fará muito bem.
Alguns cultos poderiam ser abertos para um debate sobre um tema sobre o qual não temos certeza ainda. Já disse em um desses meus textos que as certezas não contribuem e são próprias dos que estão na prisão de um só pensamento ou na “gaiola” do dogmatismo.
Como seria bom se durante o “recreio” pudéssemos conversar sobre o sermão, questionar o pregador, abraçar o irmão que está abatido, fazer uma indicação de emprego para quem está desempregado, receitar um chá caseiro para quem está com algum mal-estar leve, orar com quem está triste, servir o suco para aquele irmão mais tímido, dar umas “dicas” para um casal com dificuldades de relacionamento e atualizar o “noticiário” da comunidade de crentes. Parabenizar os aniversariantes, comemorar uma vitória alcançada por alguém do grupo, sorrir para um idoso, abraçar um jovem e dizer-lhe palavras de ânimo.
Por que ficar no pátio conversando enquanto se desenrola o sermão é proibido? E se o sermão não estiver servindo para nada temos ainda que ouvi-lo? Será que a atenção de alguém, em determinados dias, não nos fará mais bem do que um sermão preparado com base em pressupostos falsos sobre as nossas necessidades? Não temos liberdade para escolher sentar no banco e ouvir ou ficar no pátio e sorrir? A necessidade é nossa ou do pregador?
Acho muito confusa as falas que ouço de vez em quando na igreja. Já ouvi alguém dizer que Deus não precisa de nós. Se é assim, por que então “ele” exige que fiquemos em a nave da igreja para ouvi-lo durante o sermão? Ele precisa que eu o ouça? Tem medo de ser abandonado?
Compreendo que Ele não quer que eu me perca, mas, forçando-me a ouvi-Lo, Ele me conquista ou me afasta?
É por isso que eu tenho dúvidas se o pregador fala em nome de Deus. Penso que tem gente abusando da minha ignorância e fraqueza. Faz-me acreditar que fala em nome de Deus e ainda me intimida. Se é Deus quem fala pelos pregadores então:
1. Ë preciso mandá-lo para a escola algumas vezes para aprender um pouco mais de ciência e falar menos bobagens.
2. É preciso ensiná-lo a ter coerência no sermão. Por exemplo, temos sermões tão cheios de contradições que a gente termina o culto perguntando: “o que o pregador quis dizer?”.
3. É preciso incentivá-lo a ler mais para ter coisas novas a apresentar. Muitos sermões são repetições de tudo o que já se ouviu. Até as estórias são repetidas.
4. É preciso ensiná-lo a ser ético para que não faça um sermão condenatório sem saber o que se passa com os irmãos. Deus não pode ter pressupostos falsos.
Preciso ir à igreja para me sentir bem. Não para me sentir confortável no sentido de acomodado, bajulado, etc. Sentir bem no sentido de ser aceito, ser orientado adequadamente e, se for repreendido, que seja uma repreensão justa. Uma repreensão que ainda que eu não perceba a sua lógica no momento outros a percebam.
A igreja deve ser um lugar de acolhimento, calor humano, orientação adequada, partilha, sorrisos, abraços, afeto, tolerância, apoio, estímulo e muito mais.
Preciso ir à igreja sim, mas não a uma igreja qualquer. A uma igreja de crentes, de sábios e de pessoas bondosas. Preciso de comunhão.
Antonio Sales profesales@hotmail.com
Nova Andradina, 26 de agosto de 2011.