Era o “Dia dos Pais” e os jovens fariam uma homenagem a eles. Como precisavam de alguém que fizesse o discurso vieram até mim para incumbir-me dessa tarefa.
Eu não tinha outros compromissos e aceitei o desafio. Para me situar melhor no contexto da programação quis saber o que esperavam da mensagem, qual a ênfase que gostariam que desse.
Surpreendidos com a pergunta um deles sugeriu que falasse sobre o “melhor pai do mundo”. Pronto, tinham me colocado em uma enrascada. Eu não tinha condições morais e nem intelectuais para desempenhar tal tarefa. Não sendo bom pai não tinha moral para ensinar os outros a sê-lo. Se não era bom pai porque não sabia como ser então também não tinha condições intelectuais para ensinar.
Disse-lhes que não poderia assumir esse compromisso por questões éticas. Eles arriscaram outra sugestão: “fale sobre Abraão”. Enquanto pensava em como escapar dessa situação os jovens foram embora e deixaram-me com o problema nas mãos. No dia lá estava eu com o discurso pronto. Um discurso obtuso, algo cômico, algo melancólico, um discurso indefinível. Procurei escapar de algum possível questionamento posicionando-me “em cima do muro”. É esse discurso que transcrevo aqui em “homenagem” aos meus colegas que são pais.
“Falar sobre o melhor pai do mundo é uma tarefa descomunal, ingrata. Pois, o que é ser bom? Não sei responder a essa pergunta. O próprio Jesus respondeu-a com um exemplo. Quando um jovem o chamou de bom mestre, Ele disse: ”bom só há um que é Deus” (Mar 10: 17 e 18). Ele não disse o que é ser bom e nem porque não Se considerava bom. Apenas escapou da classificação, saiu pela tangente.
Ora, se não sei o que é bom, como saber o que é melhor? Logo, se me perguntarem qual o melhor pai do mundo vou dizer que SOU EU. Se me perguntarem por que, minha resposta será simples e simplória: considerando que não sei o que é ser bom, mas supondo que seja bom ser bom, e considerando ainda que quero estar entre os bons, digo que sou bom.
E, se ser melhor, é melhor do que ser bom eu quero ser o melhor. Ponto final. Explicação concluída.
Sou como uma criança que não sabe o que é ser bonita, mas suspeitando que é bom ser bonita decide que é bonita.
Bem, mas o que é ser bom? Já disse que não sei, mas como quero ser bom tentei conjecturar o que seria ser bom, isto é, bom pai.
Um bom pai, suponho, sabe ouvir antes de opinar. Ele leva em conta o contexto em que a conversa fluiu ou o fato aconteceu antes de julgar.
Um bom pai, em minha opinião, é forte em sua convicções mas sabe que o outro também pode ter razão. Que o filho às vezes também está certo naquilo que diz e na opinião que dá. O bom pai sabe que a sua verdade não é absoluta embora possa ser a melhor naquele momento. Ele sabe ainda que os filhos também nos ensinam pois ninguém é tão estúpido que não sabe nada e depende que tudo lhe seja ensinado.
Um bom pai não se deixa abater pelas crises familiares. Não se acovarda diante das dificuldades, mas sabe que não conseguirá resolver todos os problemas e nem compreender tudo o que se passa em sua família.
Um bom pai não perde a calma, mas sempre assume o comando quando a crise se aproxima.
Um bom pai sabe buscar ajuda e admite que, se buscou ajuda, deve experimentar os conselhos que lhe deram.
Um bom pai sabe que o filho tem direito de aprender e por isso não se exaspera com os pequenos erros, ou deslizes, cometidos por ele. Pois errando também se aprende. Não estou falando do erro estúpido, agressivo, praticado com o fim de agredir o que quer que seja. Estou falando do erro da procura, da tentativa de acerto que não deu bem.
Há também o erro da revolta pela forma com que se é tratado que é uma forma de tentar acertar ou mostrar o seu desagrado pela forma injusta com que se está sendo considerado.
O bom pai fica atento a isso. O erro do filho é o erro estúpido de uma rebeldia sem causa ou o erro da busca de alternativas e superação de uma crise pessoal ou familiar?
Enfim, o bom pai sabe que tem todos esses deveres, mas sabe que também tem direitos. O direito de ser ouvido antes de ser julgado como antiquado ou coisa que equivalha.
O direito de descansar quando está cansado. O direito de saber por que o filho demorou chegar a casa. Não aquela demora de cinco minutos, evidentemente, mas ele sabe que a demora desproporcional precisa ser esclarecida.
O direito de saber por que o filho não está indo bem na escola e porque a família está gastando o que gasta. O direito de dizer “não” quando precisar dizer “não” e o direito de não ficar sendo questionado quando avisou que a decisão é definitiva.
O bom pai conhece esses direitos e exige o respeito a eles.
Um bom pai, quando precisar dar a última palavra, dará a última palavra.
Temos muitos exemplos do passado. Nem sempre temos informações suficientes sobre o contexto em que viveram para podermos usá-los como modelos de pais. Abraão foi o pai da fé, um exemplo de fé, mas não sei se foi um exemplo de pai, pois o contexto em que viveu foi outro, a família era outra, a sociedade esperava dele, como pai, diferente do que espera de nós hoje.
A religião que professamos hoje nos impõe certas normas diferentes do que era imposto naquela época. A informação que os filhos têm disponível hoje nem de perto se compara com aquela época.
A posição da esposa e mãe na sociedade atual quase não tem nada a ver com a posição da mulher daquele tempo. Portanto, Abraão é um bom exemplo de patriarca, de homem de fé e de visão administrativa. É um bom exemplo de moralidade, mas é um bom exemplo de pai e esposo? Não sei.
Ele é louvado por ter encarregado o servo Eliezer de conseguir uma esposa para o filho já adulto. Hoje uma atitude dessas seria um fiasco.
Ao pensar na vida desses homens do passado a lição que temos que é aprender é: eles fizeram o melhor que poderia ter sido feito no seu tempo e por isso foram bons pais.
Se fizermos o melhor que nos é permitido fazer em nosso tempo seremos bons pais também e serviremos de exemplo para futuras gerações.
O que nos resta dizer agora é que um bom pai é aquele que:
1. É honrado pelos filhos ( Êxo 20).
2. É capaz de se amar. Ou melhor, está de bem consigo mesmo (Mat 22: 39).
3. Não provoca a ira dos filhos, mas aos admoesta com respeito, sem impor os seus caprichos pessoais (Efés 6:4).
4. Não irrita os filhos, pois está bem situado no seu tempo sabendo que o ontem não é o hoje. Sabe que cada dia é um novo desafio e que a incerteza é sua companheira inseparável. Apesar disso, tem projetos para os filhos, não desanima com as teimosias e reticências e aposta no filho até o último momento. Sabe que, se os valores éticos e morais devem ser mantidos, os procedimentos podem e devem ser alterados Col 3:20, 21”.
Confesso que não fiz quase nada disso. Falhei quase cem por cento, mas tenho bons filhos e por isso considero que sou um bom pai. Sou bom pai não por ter feito por merecer, mas por receber o que não mereço. Sou bom pai não porque desempenhei bem a tarefa, mas porque o resultado saiu bom apesar do fraco desempenho.
Sou como a criança que, ao ser acariciada pela mãe, julga ter a mais bela mãe do mundo e, sendo acariciada, considera-se uma criança bonita.
Sou como a criança que, ao ser acariciada pela mãe, julga ter a mais bela mãe do mundo e, sendo acariciada, considera-se uma criança bonita.
Prezado colega pai. Faça o seu melhor, esforce-se para ser cada vez melhor e você será o melhor pai do mundo, para os seus filhos.
Parabéns pelo nosso dia.
Nova Andradina, 12 de agosto de 2011
Antonio Sales
profesales@hotmail.com
No mundo de hoje em que vivemos é realmente uma tarefa ardua ser pai, mais pais perfeitos não existe, existem pais esforçados dando o máximo de sí para que seus filhos se tornem grandes homens honestos, trabalhadores independentes, tementes a Deus e principalmente dignos de representarem o nome de seus pais.
ResponderExcluirProf. Sales, fiquei encantada com a mensagem do texto O Melhor Pai do Mundo e principalmente com a fundamentação bíblica. Parabéns!
ResponderExcluirMarlene Gabilan
Estimado professor, amigo e pai Sales
ResponderExcluirSão profundas e comoventes as palavras de seu discurso aos pais. Parabéns!
Mesmo hoje, aos 24 anos, ainda tenho dificuldades em compreender a complexidade que é ser pai, pois não convivi com o meu, e o homem que conviveu com minha mãe durante 12 anos não me dá motivos para considerá-lo como tal. Todavia, seus levantamentos me fizeram refletir seriamente sobre a importante missão de ser pai, a despeito de nossas tentativas convergirem em resultados satisfatórios ou não.
Por isso, quero me dar ao direito de discordar de ti quanto ao fato de escrever que não desempenhou bem a tarefa de ser pai. Deixe-me explicar o porque:
Contigo Sales aprendi a ousar mais, a ser aventureiro, sem alimentar sentimentos de culpa ou comiseração. Não só neste, mas em muitas outras questões vc agiu como um pai para mim, e tenho a convicção de que para tantos outros vc tb o seja. Muitas das conquistas que obtive devem-se a vc, que tanto me orientou e serviu de modelo.
Por isso, mesmo que um tanto distante temporalmente, e ainda que geneticamente não sejamos pai e filho, quero parabenizá-lo por ser quem é, por ter feito o que já fez, e por sempre ensinar a tantas pessoas, seja na sala de aula, numa comunidade religiosa, em casa, ou numa roda entre amigos.
Deixar um legado à sociedade tb é característica de um bom pai. Isto vc fez muito bem feito! Parabéns pelo pai que é!
Alfredo Ericeira
Olá Alfredo!
ResponderExcluirSuas palavras me emocionaram.
Se uma criança, mesmo que não tenha os requisitos físicos para ser considerada bela, pode sentir-se bela ao ser acariciada por uma mãe meiga e bonita, penso que eu também posso considerar-me um bom pai por ser respeitado e tratado com carinho pelos meus bondosos filhos. Esse carinho agora aumentou com a sua inclusão voluntária ao rol dos meus filhos. Você é bem vindo.
Sinto-me honrado por essa escolha sua e por ganhar mais um filho do qual posso me orgulhar.