Translate

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Liberdade – II


Nós que vivemos em um país democrático temos direito à liberdade desde o nascimento. Este é o status legal de todo cidadão brasileiro. Porém entre ter direito à liberdade e ser livre há um certo percurso a fazer.
Liberdade é como uma herança, a pessoa nasce tendo o direito a ela, mas pode passar a vida sem usufruí-la. Ela pode constar na constituição de um país, mas o povo não ser livre.
Em alguns regimes a liberdade só existe para os homens em outros, somente para os governantes. Há ainda casos de pessoas que vivem em um país democrático e muitos lutam para que tenham a liberdade, mas elas não conseguem por uma questão muito pessoal. Vejamos alguns exemplos:
Uma pessoa que viaja para um país também democrático, mas cuja língua desconhece completamente terá algumas dificuldades para usufruir da sua liberdade. Se for abastada poderá recorrer aos serviços de um intérprete, mas se não for, por certo, pagará o preço da ousadia com a redução da sua liberdade.
Alguém que se sente plenamente devedor aos outros pelo simples fato de existir, não tem liberdade.
Conheço pessoas que economicamente possuem todas as condições para viajar, mas não o fazem por terem fobia a avião, por exemplo. Há quem possui Carteira Nacional de Habilitação, possui moto ou carro, mas fica dependendo de carona para se locomover. Há pessoas que tem condições financeiras e pertencem a uma família com bom status social, mas se recusam em participar de atividades festivas, comemorativas, etc. com os amigos porque têm fobia social. As pessoas com fobia social não são livres para amar, para servir, para se relacionarem com os outros, para sair de casa e para viajar. Porque as pessoas têm fobia social?
Certamente essa é uma pergunta complexa que requer a intervenção de um especialista em saúde mental, que não é o meu caso. No entanto, mesmo sendo da área de educação atrevo-me a fazer algumas conjeturas sem a pretensão de esgotar o assunto e sem garantir que essas conjeturas levem a um lugar seguro. Elas estão aqui apenas para contribuir para a compreensão do nosso tema que é a liberdade.
Uma criança que sofre bulling na escola, na rua ou entre amigos, ou ainda que é humilhada pelos pais, tem potencial para desenvolver essa fobia. Um profissional com pouco sucesso na profissão ou que exerça a profissão por falta de uma melhor opção pode também apresentar os sintomas de fobia social.
Pensemos em um membro de uma instituição religiosa fundamentalista onde os discursos pessoais e públicos (sermões) são centrados no preconceito para com os que não pertencem ao grupo, que focalizam frequentemente os castigos divinos como uma ameaça constante aos que não cumprem (e ninguém cumpre) corretamente as normas e que insistem nos “perigos” inevitáveis de um relacionamento com pessoas que não são da mesma fé. Essa pessoa precisa ser muito forte para ter outra reação que não seja a fobia social.
Ainda no contexto das instituições religiosas podemos dizer que nos sermões que têm como foco a incapacidade absoluta do ser humano para agradar a Deus ainda que em questões secundárias e que responsabilizam os membros por aquilo que Deus não fez por Sua soberana vontade;  nos discursos que mostram um Deus sempre insatisfeito com o povo e exigindo cada vez mais, que os responsabilizam pelos fracassos alheios (dificuldades dos outros para aceitar a fé) como se os tivessem provocados e esquecendo a liberdade do outro; nos sermões que os colocam no centro das atenções da ira divina, dos ataques do inimigo, da fúria social contra os crentes e dos distúrbios da natureza; nos sermões que os fazem crer serem alvos de uma perseguição sempre iminente e que são incapazes de se livrarem dela sem burlar os desígnios da onipotência. Penso que uma religião como essa provoca a fobia social e predispõe o sujeito à perda de liberdade.
Quem não consegue entregar-se aos braços de quem lhe jura (ou demonstra, ou dá evidências de) amor não tem liberdade. Que não ousa sair da rotina com medo de não encontrar o “caminho” de volta, não tem liberdade. Esclareço que não falo em tomar caminhos que já provaram serem perigosos como os vícios, por exemplo.
Quem se recusa superar os preconceitos nunca será livre, que não corre riscos não sabe o que é ser livre. Quem tem dificuldade em conviver com as diferenças, não é livre.
Portanto, amigos, há o direito de ser livre, mas para usufruir esse direito requer uma “senha de acesso” que nem todos conseguem.
Como vimos uma família “fechada” ao diálogo, com pais autoritários e que tenham fobia social, não facilita o acesso dos filhos a essa “senha”. Uma escola centrada nos professores, ou nos conteúdos, ou no autoritarismo da equipe gestora é outro obstáculo a essa “senha”. Um cônjuge ciumento, controlador, chantageador e “fechado” ao diálogo, isto é, que tem soluções prontas e respostas pré-elaboradas é um obstáculo. Uma comunidade que não estimula práticas sociais e humanitárias também limita esse acesso à liberdade. Uma instituição religiosa fundamentalista, com um culto excessivamente formal é inimiga da liberdade.
E Deus, quer você livre ou escravo?
Você é livre?
Qual a “senha” de acesso à liberdade?
Domingo, 31 de julho de 201, 14:30 em Nova Andradina, MS.
Antonio Sales
profesales@hotmail.com

4 comentários:

  1. O verdadeiro Deus nos deixa livre para experimentar novos caminhos, pois só assim podemos crescer, e esse processo faz parte do ser humano, a pessoa que não tem esta possibilidade vai aos poucos murchando, pois pertence a um círculo fechado onde aquele rotina se torna tediosa, pois não consegue aprender e nem produzir e assim só a reproduzir o que está limitado a conhecer. O mundo esta ai para aprendermos e só possível tornarmos pessoas melhores. Me considero uma pessoa livre pois,já consegui mudar muita coisas que antes me serviam e hoje já não me servem mais, por isso acredito que sou livre pois posso buscar ser uma pessoa melhor a cada dia.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, amigo! A felicidade passa por esse caminho.

    ResponderExcluir
  3. Professor, o Mestre, mais uma vez parabéns pela publicação. Penso q desde q nascemos lutamos pela liberdade, e como é bom ser livre, e ter a benção e proteção de Deus. Hoje depois de ler esse texto, serei mais atenta as minhas escolhas de liberdade, serei melhor q ontem, e amanhã melhor q hoje.
    Com admiração, um gde abraço!

    ResponderExcluir
  4. Amiga, Anônima! O caminho da liberdade não é isento de problemas, mas é o único do qual a vida humana é digna. Romper com o passado de fixidez ideológica, derrubar as paredes do preconceito, ampliar as fronteiras das nossas ideias, e dispor-se a mudar é um ato de coragem.

    ResponderExcluir