Antonio Sales profesales@hotmail.com
Tenho pensado nas razões que levariam uma pessoa a ir semana após semana à igreja. A questão que proponho inicialmente parece descabida e a resposta parece óbvia. “Vai-se à igreja para adorar a Deus” é a resposta mais simples. “Vai-se à igreja porque é uma necessidade humana” é uma resposta mais elaborada. “Precisamos de Deus” é outra versão dessa segunda resposta.
Minha pergunta é: a ida de uma pessoa à igreja tem somente Deus como foco? É a adoração o ponto central?
Se é assim (se o foco é a adoração a Deus) então o problema está resolvido: não precisamos mais ir à igreja. Sabe quem disse isso? O leitor imagina quem foi esse ousado? Resposta: foi Jesus. Leia João capítulo 4 e versículos 20 a 24. Disse Jesus quem nem no monte e nem em Jerusalém, mas em espírito e em verdade. Não é o lugar que importa, mas o espírito do adorador.
E então? Não precisamos mais ir à igreja? Não foi dito isso. Foi dito apenas que devem ter outros motivos para irmos à igreja. Só aquele apresentado não justifica. Quais os outros motivos? Pretendo discorrer sobre isso com detalhes nos próximos artigos, inclusive apropriando de um texto de Phillip Yancey que compartilharei com os leitores.
Hoje quero apenas discorrer sobre as dificuldades que encontramos para manter o entusiasmo das pessoas pelos cultos na igreja. Já discorri um pouco sobre a pobreza e inadequação dos sermões que brotam de alguns púlpitos evangélicos. Discorri sobre isso nos textos intitulados “Guias Cegos”. Quem vai à igreja precisa, além de adorar, ser “alimentado”. Precisa da instrução que brota de um sermão coerente, praticável, consistente, ético e que, além de focalizar os aspectos espirituais da vida, focalize também aspectos relacionais e os problemas vivenciais. A igreja deve ser uma escola. Mas nem só de Bíblia vive o homem (exceto os pastores). Ele precisa gerenciar os conflitos familiares, educar filhos, saber lidar com o fracasso ou com o sucesso no trabalho, ser bom aluno, bom profissional. Isso requer um pregador competente, um pregador que saiba ir além de repetições de historietas mil vezes contadas, que saiba respeitar o tempo que o outro gasta ouvindo-o.
Já ouvi um sermão onde o pregador apresentava (e depois distribuiu a cópia impressa) uns trinta passos para o fracasso na vida espiritual. Mas eu queria saber os passos para vitória e não para o fracasso. Ao terminar tive vontade de gracejar com ele e dizer-lhe: “parabéns! Você realmente é um fracassado na vida espiritual e teve tanto sucesso nisso que sabe ensinar muito bem”.
Há outros que engrandecem tanto o poder do diabo que fica a impressão de que foi contratado por ele para fazer o seu marketing. E para completar tem os ataques a roupas, a modas, etc. condenando tudo o que as irmãs usam. Nesse caso fica a pergunta: se ele fosse mulher usaria o estilo de roupa que defende? Confesso que se fosse um pouco maldoso, ou suficientemente imbecil, eu receitaria colírio de pimenta para todos vocês. O que eu duvido é que eu usasse esse remédio.
Já ouvi pregador dizendo do púlpito que quando alguma irmã entra na igreja com certas roupas desvia a sua atenção do que tem de falar. Dessa vez eu não suportei e procurei-o para classificar o sermão como antiético, inoportuno, e disse-lhe ainda que quem estava precisando de correção era ele.
Alguns dizem que os irmãos devem ficar em silencio refletindo. Pergunto: refletindo sobre o quê? Como educador sei que a reflexão é produto de algum desfio, de algum desconforto, da busca pela solução de algum problema. Se o sermão é uma repetição de tudo o que foi dito não há sobre o que refletir. Se é uma sandice é mais provável que provoque gracejos. Se é um elogio ao diabo deve ser esquecido logo. Se é sobre moda provoca mais ânsia de vômito do que reflexão. Ora, se ele quer que reflitamos dê-nos elementos para isso. Quando o sermão se baseia numa certeza, ainda que absurda, não há sobre o que refletir. Certeza não provoca reflexão; provoca silêncio em uns, frustração em outros e risos em outros. Certeza só a Matemática tem porque trabalha com seres abstratos.É lamentável que os pregadores evangélicos ousem falar em nome de Deus. Imagino que, durante alguns sermões, Deus esconde o rosto na cortina do santuário de vergonha do que é dito em Seu nome. Ele deve pedir severas contas desses que se dizem teólogos e toma o tempo dos irmãos para não acrescentar-lhes nada. Se perguntarmos a um irmão, à saída da igreja, sobre que achou do sermão, por certo ele dirá que foi bom (está programado para dizer isso). Se perguntarmos o que aprendeu de útil para a vida (algo que vai praticar) é muito provável que dê um “sorriso amarelo”.
Claro que existem exceções, mas tem-se a impressão de que são poucas e quase sempre ligadas a emocionalismos.
Que razões encontramos para ir a igreja, além do costume e desencargo de consciência?
Discorrerei sobre isso nos próximos textos.
Nova Andradina, 22 de agosto de 2011.
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