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terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Perdão


No meu livo sobre “O Homem, a Lei e a Graça em Romanos” (Sales, 2011)  escrevi que o perdão ocorre  em duas etapas: a concessão, por parte do perdoador, e a aceitação, por parte  de quem está sendo perdoado. Por parte do perdoador, uma vez concedido o perdão, não há retorno. A sua tarefa está cumprida. Por parte do receptor o perdão concedido pode nunca se efetivar. Alguém pode ser perdodado e não sentir-se como  tal, ou seja,  recusar o perdão. Recomendo a leitura completa do capítulo que trata do assunto no referido livro.
Hoje quero analisar mais detalhadamente a posição do perdoador nesse processo. “Quem perdoa esquece” é a frase comumente ouvida. Quanta verdade há nela? “Perdoar é fácil” dizem outros. Será?
Com relação a esquecer a verdade depende do que se entende por esquecer.  Se esquecer significa ausência de lembrança, isolamento total do passado, então a frase é falsa. Se por  esquecimento está sendo entendida a ausência de cobrança da “dívida”  perdoada, então a frase é verdadeira.
Convém lembrar que o perdão incide diretamente sobre a dívida, sobre o ato, mas não necessariamente sobre a pessoa.  Esta pode ser perdoada ou não (veja o primeiro parágrafo), uma vez que pode ou não aceitar o perdão oferecido. Não se pode esquecer também que não temos competência para julgar pessoas e sim atos, comportamentos. Logo, o nosso perdão incide sobre atos e comportamentos. Isso equivale a dizer que o fato de alguém perdoar o outro não significa que deve, obrigatoriamente, reatar as relações rompidas como prova do seu perdão. Nossas relações são com as pessoas e se elas não nos inspiram confiança, mesmo perdoadas, convém deixá-las livres para seguir trajetória que escolheram.
Como tenho um raciocínio imagético gosto de trabalhar com exemplos, ainda que hipotéticos. Estou consciente de que exemplos são sempre limitados e se prestam a uma única finalidade: ilustar um pensmento.
O exemplo mais simples que encontrei é: se faço sociedade com alguém e essa pessoa age de má fé para comigo causando prejuízos, posso perdoar a sua dívida mas não tenho nenhuma obrigação de continuar sendo seu sócio. Portanto, esquecer nesse contexto  significa apenas ausência de cobrança mas não ausência de  lembrança. Ausência de lembranças em casos assim pode ser indício de doença.
Se não houve má intenção no erro cometido, mas não há evidência clara disso, tembém não sou obrigado a correr novos riscos enquanto a minha dúvida não for esclarecida. Em casos como esses perdoar significa dar nova oportunidade, oportunidade de viver uma nova experiência de dar evidências de que o erro foi acidental, erro de processo, resultante de tentativa de acerto. Nesses casos, o perdão não somente é aceito como também põe em ação o seu potencial transformador, restaurador, animador. A pessoa dará, com o tempo, as evidências necessárias da sua boa intenção
Após essa etapa as relações se reatarão automaticamente, mesmo que com menor intensidade. A lembrança (não a cobrança) do ato praticado, por parte de ambos,  pode ser útil para evitar transtornos futuros. A lembraça é fonte de aprendizado e o esquecimento pode ser doença.  O “esquecemento” forjado ou forçado pode representar tentativa de fuga da realidade, pode significar dificuldade em lidar com o problema, falta de posicionamento.
Caso a pessoa não dê evidências de ter errado por acidente, por imprecisão de cálculo, o perdão somente beneficia o perdoador porque o liberta do fardo da cobrança, da dor da perda, da angústia de ser um perdedor dominado pelas frustrações da vida. Em caso de erro proposital o perdão não isenta o devedor da sua  culpa.
Perdoar também não é um ato tão espontâneo quanto se espera de quem deve perdoar. Perdão requer amadurecimento e ocorre após o início de um processo de superação de mágoas. Diferentemente do que se prega o perdão não é o início do processo de superação, ele é resultado disso e depois contribui para que tal processo se intensifique. Não haverá superação total da “dor” enquanto não ocorrer o perdão, mas ele não é o ponto de partida. 
Novamente um exemplo: no caso de um ferimento físico tratado pelo processo natural (sem medicamentos) não ocorre a cicatrização sem que seja criada uma crosta que protege o ferimento (casca da ferida), mas o aparecimento da crosta já é produto do processo de cicatrização. Não há cura emocional sem que haja perdão (ele protege o ferimento emocional), mas o perdão é produto desse porcesso de cura.
Abro parêntese: Como não sou terapeuta penso na cura da dor emocional pelo processo natural. Talvez um terapeuta consiga fazer o processo se iniciar  pelo perdão ou ocorrer sem ele. Tenho dúvidas mas não descarto essa hipótese tendo em vista que não venho acompanhando os progressos da terapia emocional. Fecho parêntese.
O perdão aliado ao tempo contribui para o “esquecimento” saudável, aquele em que a ofensa passa para um plano inferior no espaço das lembranças. Quando  a ofensa é lembrada (ela nunca é esquecida) o perdoador tem um olhar de tolerância e, às vezes, de compaixão para com aquele que foi perdoado. Vem daí  a auência de cobrança.
Praia de Manaíra, João Pessoa, 02 de outubro de 2011.
Antonio Sales     profesales@hotmail.com

Referência
Sales, Antonio. O Homem, a Lei e a Graça em Romanos. Campo Grande, MS: Ed do Autor, 2011 (Esse livro é distribuído gratuitamente e será enviado a quem solicitar, pelo preço do porte do correio).

3 comentários:

  1. Olá professor e Dr: Sales!


    Conforme o que lhe disse em email, que estava lendo um livro que falava de perdão, nesta tarde deu-se o termino, e qui vou fazer uma breve síntese sobre o que aprendi.

    Percebo ao ler esse livro o assunto PERDÃO está se tornando pesquisas cientifica.


    Por que esse interesse no Perdão?


    Há informação mostrando que o Perdão é bom não só apenas para a vida religiosa, mas também proveitoso para a saúde física e mental.
    A relação entre a mente e o corpo é muito íntima. Quando um é afetado, o outro se ressente. A condição da mente afeta a saúde do organismo. Se a mente está feliz, com a consciência de haver feito o bem e uma sensação de satisfação em promover a felicidade dos outros, isso produz uma alegria que afeta todo o sistema, permitindo livre circulação do sangue e o fortalecimento de todo o corpo.
    Pesquisas revelam que as emoções negativas como estresse, ansiedade e raiva em maior ou menor grau, fazem com que o sistema nervoso simpático reaja exatamente como se o corpo estivesse enfrentando perigo de morte. As pupilas se dilatam, os batimentos cardíacos aumentam e as glândulas suprarrenais secretam hormônios que preparam o corpo para luta. Até mesmo pensamentos negativos podem criar esse estado de emergências no organismo.


    As ofensas podem ser de todos os tamanhos e formas, assim como são os seres humanos. O mais interessante é que uma ofensa aparentemente pequena pode desencadear a mesma sequencia de emoções negativas que uma ofensa mais grave e notória.
    Raiva, ódio, ressentimento, amargura, vingança, são mortais e roubem-nos a vida de alguma forma.
    Sendo assim estou convencida de que minha melhor e mais saudável "opção" é perdoar.
    Devemos calçar os sapatos do outro (empatia) não julgar até que tenha andado uma milha com os sapatos dele e isso se aplica ao caminho do perdão. Uma das armas mais poderosas para nos impulsionar no caminho do perdão é a empatia.


    Se ferimos alguém e ,então lhe pedirmos que nos perdoe, mas essa pessoa preferir não perdoar, nem buscar meio pra restaurar o relacionamento isso não significa que Deus não nos tenha perdoado. Podemos perdoar, mas precisamos respeitar o desejo da outra pessoa de não querer reconciliação. É bom ter em mente que pode haver ofensores que desejem continuar com o relacionamento com a intenção de produzir mais danos. Perdão, vale repetir, é para benefício da própria vítima. Somente o perdão pode passar uma esponja no passado, de uma vez por todas. Temos a necessidade de perdoar e ser perdoado. O verdadeiro perdão fortalece tanto a vitima quanto ao ofensor, enquanto que o falso debilita a ambos.


    As experiências de Pedro e Judas ilustram como a confissão e o arrependimento funcionam. Pedro e Judas haviam traído seu Mestre. Na realidade, a traição de Judas não foi pior do que a de Pedro. Ambos venderam o Mestre de modos diferentes. Judas traiu Jesus por uma importância em dinheiro, Pedro, por uma quantidades de palavras. No entanto, um cometeu suicídio e outro viveu para se arrepender de seu pecado. Pedro acreditava que não havia pecado tão grande que, se confessado, Jesus não pudesse perdoar.. A visão espiritual de Judas com relação à capacidade de Deus de perdoar era muito mais limitada e isso lhe custou a vida.


    Para encerrar pois é muito vasto o assunto quero dizer: Certamente Deus nos criou com mecanismos cerebrais para combater as ações do pecado contra nós e dentro de nós. É uma questão de escolha usar esses mecanismos promotores de vida, em substituição aqueles que a destroem.




    Sinete Arruda.

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  2. Olá Sinete. Obrigado pela contribuição. Só gostaria que, se possível, acrescentasse os seguintes dados:
    Autor(es) do livro,
    Título do livro
    Editora, cidade (da editora) e ano de publicação

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  3. Olá Sales!

    Título Original em inglês:
    I Forgive You,But...
    Eu perdoo, mas...

    Tradutor: César Luís Pagani

    Autores:
    Lourdes E. Morales-Gudmundsson

    CPB

    Rodovia SP - Km 106
    Cx. Postal 34 - 18270-970-Tatuí, SP
    Tel,:(15)3205 8800
    WWW.cpb.com.br

    1ª edição 3 mil exemplares
    2010


    Sinete Arruda.

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