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terça-feira, 25 de outubro de 2011

“OBRAS DA LEI”


O apóstolo Paulo foi um intelectual invejável. Ele não viveu com Cristo e talvez estivesse fora da Palestina quando Jesus andou por aquelas terras pregando. Somente algum tempo depois ele foi incorporado aos apóstolos após ter encontrado a Jesus de forma singular (At 9). O seu preparo acadêmico facilito com que entendesse a mensagem do Mestre muito antes dos outros discípulos, mesmo tendo entrado em  contato com ela algum tempo depois.
Fico pensando se não foi esse o motivo de Jesus tê-lo chamado de forma tão singular. Talvez aqui pudéssemos dizer que Jesus chama a todos, indistintamente, mas não é verdade que Ele tem preferência pelos iletrados. Há salvação para todos e todos podem crescer a partir do momento que aceitam o evangelho, mas os intelectuais que O aceitam podem caminhar mais rápido.
Uma coisa que Paulo entendeu rápido foi o    que alguns denominam de “justificação pela fé”. Talvez fosse mais prudente dizer apenas: justificação. A fé entra aí para adjetivar a proposta de Deus, captada por Paulo, visando diferenciá-la da proposta judaica. Na realidade Paulo escreveu suas cartas aos romanos e aos gálatas visando desmanchar um “nó” que os judeus haviam conseguido dar nos raciocínio dos gálatas a esse respeito. Parece que os judeus tinham uma pergunta “na ponta da língua” sempre que um cristão lhes falava do evangelho. A pergunta era: e a lei onde fica?
Paulo acreditava no poder transformador da graça mais do que eu acredito no poder transformador da educação e da cultura. Para mim a educação e a cultura transformam, mas levam décadas para produzir resultados enquanto Paulo acreditava que a graça produzia resultados imediatos. Na sua perspectiva a educação, ou instrução,  teria função complementar. A graça transporta, imediatamente, o sujeito para outra “comunidade” e a instrução ensina-o a viver nessa outra “comunidade”; uma “comunidade” onde a lei das proibições* não se faz necessária.
Nesse embate entre lei (leia-se judaísmo) e o evangelho Paulo escreveu aos gálatas que “o homem não é justificado pelas obras da lei (Gl 2:16).
A pergunta que me proponho analisar é: que são “obras da lei”?
Como o meu raciocínio não é abstrato sempre penso em bases concretas. Vou apresentar alguns exemplos que nos ajudarão a entender o que penso sobre o assunto.
Há pais que se mantêm distantes (física ou emocionalmente) do filho e depois quando pressentem algum problema começam oferecendo presentes na tentativa de conquistá-lo. Há cônjuges que transgridem os votos matrimoniais e para que o outro não suspeite procuram estar sempre a tempo em casa, ser carinhoso, etc. Há aqueles que atrasam desnecessariamente no retorno ao lar e, para não  provocar discussões, quando chegam entram pé-ante-pé procurando não acordar o outro.
Tudo isso é “obra da lei”. Faz-se para “comprar”, enganar parecendo apaixonado, esconder que chegou atrasado, etc.
Pode acontecer diferente. O pai é presente, dá a assistência física e emocional que o filho necessita, e ainda assim oferece-lhe presentes para comemorar a boa relação que existe entre ambos. O cônjuge está realmente apaixonado pelo outro e o cobre de afeto. O sujeito precisou chegar atrasado, telefonou avisando, e chegou com cuidado para não perturbar o outro. Isso NÃO É “obra da lei”.
Qual a diferença? A diferença está nos motivos e, como não podemos julgar os outros pelos motivos, temos que levar em conta o contexto e determinados fatos para dizer se é a lei ou a graça que está imperando.
Campo Grande, 22 de outubro de 2011.
Antonio Sales                                                   profesales@hotmail.com
*Sobre outras funções da lei veja o meu livro “o homem, a lei e a graça em romanos”. A distribuição é gratuita bastando que o interessado pague o porte do correio.

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