Translate

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

SOU MOVIDO A CONFLITOS


 A primeira vez que li sobre conflitos sociocognitivos foi no livro organizado por Gilbert Arsac, um pesquisador francês da Didática da Matemática. Os autores do livro defendem a ideia de que ao se propor problemas para que sejam resolvidos em grupo produz-se um conflito sociocognitivo nos alunos que se envolvem no processo. Esse conflito é gerador de aprendizagem.
Tenho percebido que quando a gente, como professor, consegue produzir esse conflito o aluno se compromete com o aprendizado, sente-se desafiado a superar as suas  limitações. Deve ser por isso que alguns profissionais são mais estudiosos do que outros; estão sendo sempre desafiados.
Tento entender porque nas igrejas os pastores ainda insistem em fazer do sermão um monólogo. Eles trazem verdades prontas que todo mundo já sabe que não funciona, mas insistem em representar porque era assim que se fazia antigamente. Os pacotes veem prontos e os resultados são puramente estatísticos.
O mundo muda e a igreja permanece parada no tempo. A escola também é assim. Nesses dois ambientes ninguém quer ter conflitos cognitivos. Todos gostam de fingir que está tudo bem com ele e tudo está errado com todos os outros. Todos querem estar em paz, isto é, satisfeitos com o que sabem. Pouco importa o empecilho que são para os outros ou que os outros os enxerguem como como arcaicos, atávicos, uma estátua ambulante. Uns estao garantidos pelo concurso e outros pela paciência divina.
Na igreja todos devem fingir que concordam com tudo o que é dito, mesmo que não pensem em como operacionalizar a informação.  Mesmo que não levem para casa a informação recebida, que “joguem-na no lixo” antes de sair da igreja, devem acenar com a cabeça que concordam com tudo. Devem evitar ter conflitos ínternos e ignorar os externos.
Ao contrário de tudo isso eu sou movido a conflitos socicognitivos. Gosto de ser confrontado em minhas verdades.  Fico incomodado quando estou cheio de certezas. Quanto mais certeza tenho mais medíocre me sinto.
Certa vez estava enfrentando alguns confitos familiares. Mas eu estava certo do que fazia. Minha forma linear  de raciocinio indicava que eu estava no caminho certo. Só não entendia uma coisa: por que nada dava certo se  eu estava certo? Se sabia fazer o certo por que dava errado?
Entrei no raciocínio circular e  sempre convergia para o mesmo ponto até que resolvi consultar um psicoterapeuta. Ao contar-lhe o motivo da visita ele me deu razão e disse que estava tudo bem comigo. Saí frustrado do consultório. Se estava tudo certo por que nada dava certo? Se estava raciocinando em círculo porque não  tentou quebrar a sua continuidade? Por que não questionou as minhas certezas? Se fizesse isso poderia despertar-me para um outro olhar. Por que não questionou o meu comportamento colocando em cheque as minhas convicções? Talvez tivesse ajudado a entender porque, apesar das minhas certezas, não estava conseguindo acertar.
Eu  precisava ser colocado em situação de conflito para reavaliar as  minhas verdades. Precisava disso. Nesse conflito íntimo estava  a minha saúde relacional. Aprendi a ter paz em meio aos conflitos sociocognitivos e vejo nele a força propulsora da minha produção intelectual. Vejo nele a saída para a minha mediocridade intelectual.
Há dois tipos de raciocínio que devem ser interrompidos por alguém habilidoso: o raciocínio circular e o raciocínio linear. Eles são úteis em algumas ciências, mas não são úteis nos relacionamentos. A Matemática, por exemplo,  se expande graças ao raciocínio linear. Às vezes o raciocínio circular também ajuda a resolver problemas matemáticos e de algumas ciências experimentais.
Não tenho visto esses dois raciocínios ajudar nos relacionamentos. Muitas dificuldades nos relacionamentos familiares  são provenientes desses dois tipos de raciocínio. É preciso quebrá-los, gerar conflitos para que seja encontrado outro caminho.
Conheço pessoas que não têm conflitos, são pessaos que não produzem. Conheço pessoas que são cheias de certezas, são as alienadas. Conheço pessoas que acham que tudo que se fala em uma pregação é inspiração divina, é a voz de Deus. Com isso ofendem a divindade ao atribuir-lhe as mediocridades que são proferidas no púlpito. Conheço pessoas que não gostam de ser postas em cheque. Quase sempre são as que atrapalham muito e contribuem pouco.
Talvez caiba um esclarecimento complementar. Conflito cognitivo não é conflito com as pessoas, é conflito consigo mesmo. Não se quebra um raciocínio linear com estupidez ou verdades prontas, quebra-se propondo  questões, levantando dúvidas, propondo alternativas, ajudando a formular  novas  hipóteses.
Tenho apreciado da forma como meus leitores se manifestam. Eles desafiam sem atacar. Estão de parabéns.
Nova Andradina, 30 de novembro de 2011.
Antonio Sales                                profesales@hotmail.com

sábado, 26 de novembro de 2011

UM HOMEM LIVRE

Penso que nunca conseguirei expressar plenamente  a minha admiração pelo apóstolo Paulo. A sua capacidade de entender  e divulgar  a essência do cristinismo é fascinante. A visão na estrada de Damasco não o cegou, abriu-lhe os olhos.
Paulo conseguiu entender o que é liberdade e viver plenamente livre. Ao pregar aso gálatas ele tentou, sem muito sucesso, explicar o que é ser livre. Foi calmo, esbravejou (Gl 3:1), voltou à calma (Gl 4:12-20), mas parece que não teve o sucesso desejado. É compreensível porque liberdade é algo para ser vivido e não para ser ensinado. É como falar sobre o sabor de uma fruta deconhecida. Se a pessoa não experimentar nunca ficará sabendo o seu verdadeiro sabor.
Vamos analisar algumas expressões de Paulo.
“Rogo-vos sejais como eu”(Gl 4:12) livres do legalismo. Que vos afasteis das pregações dos judaizantes que colocam a lei como sendo necessária para o viver cristão. Quando se apresentou perante Agripa II (At 26:29) ele desejou que todos fossem como ele: preso apenas pelas algemas físicas com que os guardas romanos o conduziram perante o rei. Interiormente ele era livre.
Nessa mesma linha de pensamento ele  disse: “sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”(1Co 11:1). Ele aprendera com Cristo a suportar os fracos (1 Co 9: 19-23), a não mais fazer distinção social entre homem e mulher, gentio ou judeu  e proceder a contextualizar o evangelho. Ele perdera o medo de investir nas pessoas, de apostar  no poder transformador da graça e de acreditar que o crente precisa de educação e orientação (processo de santificação), mas não de lei (proibição).
Ele aceitou as limtações dos gálatas em entender a sua pregação (Gl 4:12) pois se tornou como um deles, frequentou com eles, insistiu com eles e agora esperava que o aceitassem com a sua liberdade (Gl 4:19, 20).
Paulo imitou a Cristo quanto a ser livre e não no comportamento como se imagina. O comportamento de Cristo, como o de qualquer pessoa, é inimitável porque os contextos não se repetem. Imita-se o caráter e  a postura perante a vida. Cristo era livre porque rompeu  com as práticas discriminatórias da época. Conversou com a samaritana (Jo 4), perdoou a pecadora (Jo 8:1-11) tocou nos leprosos (Lc 5:13) uma classe desprezada, aceitou a ajuda das mulheres (Lc 8:1) numa época em que isso diminuía o valor de um homem, aceitou cobradores de impostos entre os seus discípulos (Lc 5:27-32) e valorizou a oferta da viúva pobre mais do que a oferta dos ricos. Paulo, seguindo o exemplo de Cristo, conseguiu tembém libertar-se.
O autor Cosaert(2011) fez um enorme esforço para transmitir essa mesma mensagem que estou tentando transmitir ao leitor. Ele não conseguiu. Sei disso porque assisti a uma exposição sobre o tema proposto por ele e percebi que nada do que o autor dissera atingia o público e o preletor. Terei eu conseguido?
Nova Andradina, 26 de novembro de 2011.
Antonio Sales                  profesales@hotmail.com

Referência
COASERT, Carl P. O Evangelho aos Gálatas. Lição da Escola Sabatina (Adultos). Out.Nov.Dez. 2011. Tatuí, SO: Casa Publicadora Brasileira, 2011 ( Lição 9).

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

VAMOS TRANSGREDIR?-II

É possível que ao usar o termo transgressão eu tenha causado mal-estar em algum leitor. Isso é compreensível se levarmos em conta  que transgressão, na nossa cultura, sempre esteve ligado a desobediência a Deus ou a algum deslize moral. Transgressão soa como maldade, ingratidão, perversidade.
Penso diferente. Para mim a vida cristã não se resume em pecar ou não pecar, obedecer a lei moral ou desobedecer a lei moral. Entendo a vida como algo mais amplo e mais complexo. Ela não é binária, do tipo certo ou errado.
Viver é um fenômeno multifatorial e as possibilidades de viver moralmente bem vão muito além de obedecer a lei dos dez mandamentos que,  no meu entender, nem deveria mais fazer parte do “cardápio” cristão.
Penso que há  múltiplas formas de transgredir sem ser imoral.
(Antes de prosseguir convido o leitor a ler o texto “errar é humano” postado neste mesmo blog (http://apontandocaminhos.blogspot.com/2011/07/errar-e-humano.html)).
Um aeroplano transgride a lei da gravidade sem ser imoral, um jovem estudioso transgride  a lei do comodismo sem ser imoral, um homem honesto transgride a lei da corrupção sem ser imoral, as mulheres transgrediram lei do machismo sem se tornarem imorais, um adicto abandona  o uso da droga sem ser imoral. A lista parece  infinta, mas o que importa é que podemos transgredir muitas leis sem cairmos na imoralidade. É para essa transgressão que convido o leitor.
Convido o leitor para a ousadia de pensar por si mesmo, para perder o medo de Deus, para sair da mediocridade, para superar o preconceito. Convido-o para tanta coisa que nem sei enumerar. Convido-o para sair da repetição de palavras já proferidas milhares de vezes  por outras pessoas. Convido-o a ler a Bíblia por si mesmo ou com ajuda de múltiplos comentaristas, isto é, para sair do domínio intelectual de alguém.
Convido-o a não ter medo de errar e aqui novamente cito o artigo “errar é humano”que deve ser lido como complementar a este texto.
Conforme já disse, a vida não é binária. Não é regida pelo sim e não. Ela é regida por escolhas muitas vezes mutuamente exclusivas, mas nem sempre contraditórias. Temos que escolher porque não há espaco (emocional, intelectual, físico, moral, legal) para as duas.
Um exemplo: um jovem tem admiração por duas garotas e sabe que qualquer uma delas lhe seria uma boa companhia. Ele deve escolher entre uma e outra porque no nosso código de ética não há espaço para as duas. No entanto, ao escolher uma ele não está dizendo que ela é melhor do que a outra ou garantindo que fez a escolha mais acertada. A outra escolha poderia ser igualmente boa.
Outro exemplo: um jovem gosta de ciências exatas e está para escolher entre estudar Física ou Matemática. Ele deve escolher porque não há espaço para (espaço de tempo para estudar) as duas e não porque uma seja melhor do que a outra. Infelizmente muitas religiões nos levam a pensar na vida como sendo binária: salvo ou perdido, amado por Deus ou rejeitado por Deus, bom ou mau, bem ou mal,  Deus ou o diabo e assim por diante. Será que entre o salvo é o perdido não há gradações? Será que entre o bom e mau não há o bom que faz mal e o mau que faz bem? Uma quimioterapia é algo bom ou mau? Ela faz bem ou mal?
Doce é bom e faz mal para tanta gente. Glútem é bom, mas tem gente que não pode comer. Entre o casado e o solteiro existe o namorado, o noivo e a união estável. Por que reduzir a vida a duas dimensões apenas se ela  é multidimensional? Existem jovens que não estão na igreja e nem no “mundo”, existem pessoas que saem na rua nem vestidas e nem nuas, durante o ano letivo o estudandte não está nem aprovado e nem reprovado, durante a minha trajetória  cristã há momentos nos quais não estou salvo e nem perdido. Momentos em que estou em processo de redefinição das minhas prioridades, das minhas crenças e das minhas relações com Deus.
Ao convidar o leitor para transgredir convidei-o para sair da linearidade, do binário e do discurso repetido. Nunca conviei e nem convidarei quem quer seja para a imoralidade.
Escrevi parágrafos acima que os dez mandamentos não deveria mais fazer parte do “cardápio” cristão. Com isso não estou dizendo que que foram abolidos ou coisa semelhante. Estou dizendo que um cristão não deveria necessitar que alguém lhe dissesse para não matar, não adulterar, etc.  Um cristão que aprendeu a respeitar o outro faz algo mais do que não matar: ele apóia, incentiva e orienta.
Os pregadores que ainda pregam os dez mandamentos para os seus membros estão admitindo  que falharam em educá-los ou então que a graça não transforma.
É isso leitor que eu disse quando o convidei a transgredir.
Nova Andradina, 25 de novembro de 2011. 
Antonio Sales                                       profesales@hotmail.com

domingo, 20 de novembro de 2011

SOU FELIZ QUANDO QUERO?

De vez em quando recebo mensagens de autoajuda via e-mail. Leio poucas. Talvez uns 10% delas, ou menos ainda. Algumas são reflexivas, desafiam o intelecto. Percebe-se isso logo na introdução. Delicio-me com elas.
Outras são banais. Autoajuda vazia. São como fazer uma refeição somente com arroz polido. Só tem carboidrato,  fonte de energia instantânea . É pobre em proteína,  elemento importante na reconstrução dos tecidos. Mensagens desse tipo não reconstroem a autoestima, não curam feridas, não orientam o viver.
O arroz polido é pobre em vitaminas, os elementos reguladores do organismo. Mensagens desse tipo não ensinam como se relacionar, não apresentam algo factível. Ficam naquela repetição monótona de que você é importante, que você pode, que é filho de Deus etc.
Recebi uma dessas recentemente. Veio de uma pessoa amiga e em consideração tomei tempo para ler. Em certo momento dizia assim: “se você tem paz e é feliz muitos terão inveja. Tenha paz e seja feliz assim mesmo”.
Parei a leitura nesse ponto e perguntei: sou feliz quando quero ou quando posso?
Se sou feliz precisa alguém me falar para continuar sendo feliz?
Não tenho dúvidas de que para ser feliz preciso querer, assim como para aprender preciso querer, para almoçar preciso querer, para amar preciso querer. Somente para pensar não preciso querer. Só o pensamento é espontâneo.
Muitas vezes penso no que não queria pensar. Não tenho muito controle sobre ele. Quando quero descartar um pensamento sobre algo que não devo pensar eu simplesmnete intensifico o meu pensamento sobre  tal objeto até o pesnamento se recusar ser direcionado para ele. Venço o pensamento pela saturação. Quando acho que não devo pensar mais eu penso. Faço isso até cansar a “fonte” ou o motivo daquele pensamento.
Acho incrível quando alguém diz que não devemos pensar em determinada coisa.
Mas, e a felicidade? Penso que sou feliz quando posso e não quando quero. Queria ser feliz o tempo todo, mas não consigo ser feliz com fome. Não consigo ser feliz quando não posso ajudar um irmão que sofre. Não consigo ser feliz quando não consigo tirar alguém da ignorância ou fazê-lo aprender matemática. Não consigo ser feliz quando sinto ódio por alguém.
Dizem que querer é poder. Tenho dúvidas. É preciso querer e ter condições.  Não adianta alguém querer almoçar se não tem como consegir o alimento. Alguns fatores externos devem ser favoráveis. Não é diferente com a felicidade.
Não creio que seja possível ser feliz sem liberdade de expressão, ao lado de quem não o respeita, trabalhando para alguém que não o valoriza, sorrindo para quem o odeia, suportanto (apenas por dever ou por falta de alternativa) quem o explora, não tendo com quem partilhar as ideias e os ideais.
Dessa forma concluo que não sou feliz quando quero,  mas sim quando posso. E você?
 Por outro lado, se sou feliz, precisa alguém em dizer para continuar feliz. Não bastaria não me atrapalhar?
Nova Andradina, 20 de novembro de 2011 ( domingo)
Antonio Sales  profesales@hotmail.com

sábado, 19 de novembro de 2011

O CURTO CIRCUITO DO LEGALISTA

O legalista anda em círculos e o seu referencial é a lei. O seu discurso sobre a graça gira em torno da lei.
Na sua perspectiva, a lei é necessária para que haja graça, a lei é necessária para nos conduzir a Cristo, a lei é necessária para tudo.
Quando o assunto a ser discutido é o livro de Gálatas então o curto circuito fica evidente.
Presenciei  um discurso desses. O ministrante apresentou-se como tendo estudado bem o assunto no curso de teologia. Fiquei feliz. Até que enfim ouviria um discurso gracioso e coerente onde lei e graça ocupariam posições distintas e sem intersecções.
Iniciou afirmando que a salvação é somente pela graça. Até aí nenhuma novidade pois todos os cristãos repetem a mesma coisa.
Em seguida  discorreu sobre as funções da lei. Fiquei expectante pois no meu livro*  também discorro sobre o assunto e queria ver se havia coincidência de opiniões. Descobri que pensamos diferente sobre o assunto, mas esse não seria um problema tendo em vista que vivemos em um país democrático onde as ideias têm livre curso e devem ser respeitadas. Só não podem ser carentes de lógicas ou de coerência.
Vou proceder uma análise do discurso apresentado para que o leitor possa fazer também a sua análise.
As três funções da lei apresentadas por ele foram:
1.                      Com base em Rm 7:7: mostrar o pecado
2.                      Com base em 2Co 3:7-9: condenar o pecador
3.                      Com base em Gl 3: 23-25: conduzir a Cristo
Após essa terceira afirmação o ministrante citou Jr 31:33 afirmando que o Espírito Santo se encarrega de imprimir a lei no coração do crente.
Façamos a análise do dicurso a partir da terceira proposição sobre a lei.
Se  a lei nos conduz a Cristo então ela tem função salvífica e salvadora. Ela salva o pecador da condenação (dela mesma?) conduzindo-o a Cristo, logo é salvadora.
Ela tem o poder de despertar a consciência do pecador e apontar-lhe a sua necessidade de salvação, logo tem função salvífica.
Se ela possui a função salvífica de despertar a conciência, qual é mesmo o papel do Espírito Santo nesse processo?
Se ela tem a função de condenar o pecador como pode também conduzi-lo à salvação? Condenar  o pecador  e conduzir esse mesmo pecador  à salvação não são funções opostas? Como a lei, sendo uma letra,  pode exercer as duas? O Espírito Santo até pode fazer isso porque Ele é uma pessoa (na minha perspectiva) e uma pessoa tem racionalidade, sabe gerenciar conflitos e pode atuar em funções opostas.
A primeira proposição  do ministrante foi que a lei mostra o pecado. Talvez ele quisesse dizer que ela define (ou traz  a definição) do certo e do errado. Mas, ainda assim, há uma distância considerável entre definir o certo do errado e convencer a pessoa  a optar pelo certo.
O papel de convencimento cabe a um ser humano (educador, comunicador etc.) ou à própria divindade e não à lei. Penso que a lei jamais fará isso.
Será que se colocarmos uma placa com os dizeres “é errado roubar” na porta da casa de uma pessoa com tendências à prática do furto já é suficiente para livrá-la da prática do ato ou conduzi-la a um tratamento?
Também não sei se podemos dizer que a lei condena o pecador. Não sou jurista e talvez aqui eu cometa um equívoco. Caso isso aconteça espero que algum leitor faça a correção. O que estou pensando é que a condenação ocorre com base na lei, mas não pela própria lei. Se isso ocorresse, como quer o ministrante citado, então não haveria necessidade de tribunais. A lei seria suficiente. No entanto, o que vemos? Tribunais, Polícia e Ministério Público cada vez mais bem aparelhados para que haja justiça e advogados cada vez mais atentos e preparados para que os seus cliente não sejam injustiçados. O julgamento é algo muito complexo para ficar somente em função da lei.
 Como vimos o raciocínio do legalista é circular e dá "curtocircuito" logo na partida.
*Se o leitor quiser saber o que penso sobre as funções da lei recomendo o meu livro “O Homem, a Lei e Graça em Romanos”que não está sendo vendido. O leitor poderá adquiri-lo pelo preço do porte do correio. Um resumo dele pode ser encontrado em http://debateologicosales.blogspot.com/2011_07_01_archive.html
Nova Andradina, sábado, 19 de novembro de 2011.
Antonio Sales  profesales@hotmail.com

VAMOS TRANSGREDIR?

Quando a transgressão deve ser praticada? Temos exemplos de transgressões bem sucedidas?
Moisés devia ser morto ao nascer, mas as parteiras transgrediram a ordem do rei (Êx1:15-22) e foram abençoadas. A família do menino arriscou-se mantendo a criança por três meses em casa (Êx 2:1-10). Essa família  transgrediu e produziu o libertador.
Moisés, quando adulto, transgrediu as normas culturais da época, recusando-se  a ser chamado filho da filha de Faraó (Hb 11:23, 24). Foi graças a essa transgressão que se tornou o libertador do povo.
Parece até que há liberdade na transgressão. Não estou falando daquela atitude irresponsável que muitos confundem com liberdade.  Se estivesse pensando assim seria alvo de condenação dos moralistas. Mas, eu não sou contra a moral. Sou contra a prisão. E há muitas prisões  que eu gostaria de derrubar: o medo de ousar, o comodismo, o preconceito, as ideias fixas e as certezas.
 Parece que devemos ser gratos aos que trasngrediram porque é graças a eles que hoje voamos, transgredindo a lei da gravitação. Somos gratos às mulheres que transgrediram a cultura machista e nos legaram mais equilíbrio no mundo. Hoje somos  mais humanos.
A sunamita cujo relato se encontra em no segundo livro dos Reis (2Re 4) foi uma transgressora. Ela primeiro devia falar com Geazi, mas ela transgrediu esse costume e foi falar com o profeta. Não foi punida. Pelo contrário, foi recompensada com a ressurreição do filho.
Uma mulher que sangrava havia doze anos  tocou num homem (Jesus) (Mt 9:20), trasgredindo a regra social da época. Ela não poderia ter tocado em nenhum ser humano, mas ela tocou e foi curada.
Nem sempre se recebe maldição por transgredir. É uma pena que conselheiros menos avisados fiquem amedrontando a juventude com o exemplo do filho  pródigo, como se toda pessoa que escolhe o seu próprio caminho estivesse fadada ao fracassao. Nem sequer observam que na  referida parábola o foco era o amor do pai, a sua tolerância, a sua bondade. Para evidenciar essas qualidades o jovem teria que se dar mal, portanto, a parábola foi forjada para o jovem se dar mal e o pai evidenciar a sua bondade.
Generalizar isso, dizendo que sempre se dará mal o jovem que escolhe o seu caminho, é invenção desses conselheiros promotores da mediocridade.
Encontramos na Bíblia inúmeras pessaos que romperam com o comodismo  e sairam da mediocridade. Para sair da mesmice é preciso transgredir.
Paulo transgrediu as regras do judaísmo. Uma mulher transgrediu as regras sociais ao lavar os pés de Jesus com perfume durante uma refeição.
Judas não transgrediu as regras do seu tempo. Um homem como Jesus, que não se rebelava contra os romanos, devia morrer pela concepção dos zelotes e dos sacerdotes e Judas foi obediente a essa regra até à morte.
Há pessoas que saíram da mediocridade, transgrediram para serem livres,  e outras que morreram nela, isto é, obedeceram para a morte.
Rute Noemi em seu artigo na Revista “A Voz Missionária” de maio/junho de 2007 afirma que precisamos  romper com o comodismo da institucionlizaçao para garantir o salário. Diz ela que pastores medíocres pastoreia a si mesmos, os seus salários, ficando presos a certas regras institucionais que já deviam ter sido rompidas.
É preciso coragem para ousar romper com certas regras que nos aprisionam. Muitas pessoas estão presas a dogmas elaborados por homens e nem sequer questionam se tudo aquilo não poderia ser diferente. Muita gente repete infinitamente as mesmas palavras, o mesmo ritual, sem suspeitar que tudo isso poderia ser diferente. Muitos ouvem sempre as mesmas recomendações sem suspeitar que estão ultrapassadas.
Às vezes é preciso sair da rotina e fazer diferente, sem medo*.
Como disse Rute Noemi em seu artigo já citado: precisamos deixar de ser “hipocritamente obedientes para sermos decentemente transgressores”.
Nova Andradina, 18 de novembro de 2011. 
Antonio Sales                          profesales@hotmail.com
*Sugiro a leitura de alguns textos deste mesmo blog:
http://apontandocaminhos.blogspot.com/2011/07/servicos-essenciais-ii.html
http://apontandocaminhos.blogspot.com/2011/08/o-filho-prodigo.html

terça-feira, 15 de novembro de 2011

DE QUEM É A IGREJA?


A resposta imediata que se ouve para essa pergunta é: a igreja é de Deus.
No entanto, é um resposta simplista que não atende a determinadas necessidades. Vamos analisar alguns aspectos dessa complexa questão.
Se penso na igreja em termos de  idealização (quem a idealizou), de responsável máximo então é correto dizer  a que a igreja é de Deus.  Da mesma forma que é correto alguém dizer que o Brasil é da Presidente Dilma quando estiver se referindo a gestão, política, plano econômico, etc. Pode-se até dizer que o Brasil da Dilma é diferente do Brasil do Lula. E é mesmo, pensando no fatores citados.
Se penso em termos de existência, responsabilidade pelo funcionamento, na postura ética que cada um deve ter. Se estou preocupado com a produção de riqueza, com o gerenciamento de pequenas e grandes empresas  que integram a sociedade brasileira, então o Brasil não é da Presidente, ele é nosso. Da mesma forma a igreja. Quando penso no seu funcionamento, a igreja é nossa. Somos nós que a fazemos funcionar. Nós a mantemos com os nossos dízimos e ofertas. Mantemo-la com a nossa administração, nosso tempo, nossos conhecimentos, nossa divulgação, nossa fé, e assim por diante.
Se penso nas funções sociais  que uma igreja deveria desempenhar, nas contribuições que deveria trazer para a socialização das pessoas. Quando considero a ajuda para a superação da solidão das pessoas, as orientações que ela poderia transmitir sobre o viver saudável (não necessariamente ou inicamente saúde física), então vejo a igreja como uma instituição da sociedade. Ela foi criada a partir de uma necessidade  social.
Quando penso em questões escatológicas, batismo com o Espírito Santo, provisão de profetas, profecias e inspiração, a igreja é de Deus. Só Ele pode proporcionar tal direcionamento. Somente Ele pode decidir quando e como fazer certas coisas acontecerem.
Quando penso numa igreja que se envolve, que faz mais do que pregar. Uma igreja que leva orientação à famílias em crise, que apóia cidadãos desempregados, que orienta jovens para o mercado de trabalho, que estimula a leitura, que promove  a ousadia, então eu digo que a igreja aé nossa porque essa é uma atividade humana. Somente os seres humanos podem realizar tais tarefas.
Quando penso nas pessaos que virão à igreja em busca de apoio emocional. Quando penso nos jovens que virão à igreja porque aqui encontrarão orientação espiritual, intelectual e social. Quando penso nos solitários que virão à igreja porque aqui encontrarão uma palavra amiga, um sorriso, um tapinha nas costas, um abraço. Quando penso na vítima de violência que virá à igreja para curar-se emocionalmente e, ao mesmo tempo, aprender a se livrar do violentador. Quando penso no adicto que virá à igreja em busca de orientação e apoio para deixar a droga. Quando penso nos jovens que virão à igreja para cantar, compor corais e conjuntos, participar de reuniões de estudos (bíblicos ou não), sem serem molestados por velhos carrancudos e infelizes que infestam a igreja, então eu digo: a igreja é da sociedade. É da sociedade tanto quanto um restaurante que, sendo particular, abre as suas portas para todos que o procuram e procura atender as necessidade e anseios de todos eles. É as sociedade tanto quanto uma clínica, ou uma loja, que oferece produtos par ao bem-estar social.
Talvez seja pelo fato de dizermos sempre que a igreja é de Deus que se investe tão pouco no preparo de pregadores, que se estimula tão pouco a leitura, que se acolhe tão pouco as pessoas que chegam. Deve ser pelo fato de considerarmos a igreja como de Deus que não se investe no preparo das pessoas para liderá-la. Se ela é de Deus  deixemos por conta Dele essas coisas porque, se sair mal feito,  o problema é Dele.
Deveríamos falar em igreja de Deus na hora de falar  em milagres, derramamento do Espírito e  conversões. São tarefas divinas. Mas é exatamente nesse ponto que apelamos para  que as pessoas assumam a  responsabilidade por  tais tarefas. Quando deveríamos apelar para Deus sobrecarregamos as pessoas com a responsabilidade de resolver os problemas.
Poucas igrejas se veem como instituição social e deve ser por isso que se veem tão pouca mudança de vida nas pessoas. Elas vivem (vivem?) em um mundo à parte. Um mundo indefinido onde não se sabe se o cristianismo deve ser praticado para agradar a Deus ou para servir ao próximo.
O cristianismo é para ser vivido ou meditado? Se  a igreja é uma instituição social então ele é para ser vivido, praticado. Se a igreja é uma insituição espiritual então o cristianismo é para se meditado.
Deve ser meditado quando é um ideal, algo ainda não atingido. Deve ser praticado quando é real, quando faz parte da vida orientando relacionamentos e práticas saudáveis.
De quem é a igreja que você frequenta?
Nova Andradina, 15 de Novembro de 2011.
Antonio Sales                          profesales@hotmail.com